XI Caminhada Cultural da Consciência Negra valoriza raízes africanas em Valença

A tradicional caminhada que celebra o Dia da Consciência Negra em Valença, completou 11 anos na última terça-feira (20). A Caminhada Cultural da Consciência Negra é realizada pelo Grupo Afro Filhos da Terra, que tem a coordenação da professora de dança afro, Célia Praesent, e este ano homenageou Zeferina do Quilombo do Urubu, ícone de luta contra a escravidão em Salvador.

Caminhada terminou na Praça da República

O cortejo com representações dos deuses africanos (orixás), grupos de capoeira, povo de santo, grupos culturais e minitrio saiu do bairro da Pitanga e caminhou até a Praça da República, onde um palco aguardava a culminância do evento. As apresentações começaram com os terreiros de candomblé representados pelos pais e mães de santo e seguiram com grupos de dança, música, artes cênicas, poesia e capoeira.

Apresentação dos terreiros de candomblé representando a cultura africana

Grupo de dança

Apresentação cênica

Célia Praesent - idealizadora da Caminhada Cultural da Consciência Negra em Valença

“Pra mim é uma grande satisfação ter todos vocês aqui lutando por essa igualdade. As pessoas precisam respeitas as nossas religiões e a nossa cultura, esse é o objetivo maior desse movimento negro. Quando cheguei em Valença fui recebida com muito preconceito pela minha maneira de me vestir, então resolvi mostrar que eu vim para somar na cidade e educar através desse resgate dos jovens que passam por um descaso terrível. Esse movimento não é meu, é nosso!”, discursou a idealizadora da Caminhada, Célia Praesent.

Ao centro, o professor Zai Pereira acompanhado de sua esposa, a advogada Maíra Góes (à dir.) e sua sogra, a atriz Dasy Costa

Em entrevista ao Jornal Valença Agora, o Mestre em História da África da Diáspora dos Povos Indígenas, professor Isaías Pereira (Zai) falou sobre a data em Valença. “Essa caminhada já é realizada há muito tempo pela professora Célia, e apesar de Valença ter um número muito grande de pessoas consideradas afro-brasileiras, a adesão ainda é muito pouca, mas a luta continua e é muito importante a gente fortalecer esse evento num momento em que a identidade negra vem sendo atacada direta e indiretamente, diretamente nas favelas, negros sendo presos, sendo mortos, mulheres sendo assassinadas, e em sua grande maioria mulheres negras, enquanto uma pequena elite branca ainda domina os cursos de medicina. O que a gente tem hoje é uma concentração de mão-de-obra pesada e menos valorizada nas costas da população negra e as profissões mais privilegiadas e sem muita força braçal, na mão da população branca, então isso tudo é uma continuidade do Brasil colonial”, destacou Zai, indicando ainda que 51% da população brasileira é negra. Na Bahia esse índice é de 80%. “Somos o estado com maior número de negros no mundo, fora da África”, pontuou o professor.

Jean se apresentou de Ogum

O jovem Jean Sodré participou da caminhada caracterizado de Ogum e relatou a nossa equipe, a sua percepção do evento. “Eu sou negro e gosto muito de “sair” representando os orixás que são de matrizes africanas. Pra mim é um momento muito especial. Pediria a população que participasse mais desse evento, que venha para a Praça assistir, somos maioria negros, mas ainda tem pessoas que fecham suas portas e nos repreende quando passamos”, lamentou.

Célia Praesent , a secretária municipal de Cultura Janete Vomeri e o diretor David Terra

A XI Caminhada Cultural da Consciência Negra teve o apoio da Prefeitura Municipal de Valença, por meio das secretarias de Cultura, Meio Ambiente, Infraestrutura e Administração; Maricultura de Valença, Núcleo Territorial de Educação (NTE 6), Rio Mar Modas, Chile Calçados, Rayteo, FAESB, Loja Almeida, Restaurante Mega Chic, Paulo Festas e Casamentos, Restaurante Dagosto, Churrascaria Sabor do Sul, Restaurante da Lídia, Farmácia Taperoá, Perfumaria Mahogany, Hotel Guaibim e Hotel Onda Azul.

Fotos: Jornal Valença Agora (Reprodução autorizada com inserção dos créditos)