Evento foi uma das atividades da 20ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, que tem como tema “Ciências Básicas para o Desenvolvimento Sustentável”

Responsável por mais de 90% da colheita nacional de cravo-da-índia no Brasil, o baixo sul da Bahia, há anos vem enfrentando desestímulos que impactam toda a cadeia produtiva, entre eles, o aparecimento de pragas que vêm dizimando as plantações. Soma-se a isso uma série de demandas do setor, que vai desde a falta de conhecimento técnico à ausência de fomento para o desenvolvimento do cultivo. Entretanto, as potencialidades do cravo e a sua importância socioeconômica para a região, fazem com que a especiaria volte sempre ao debate, e, desta vez, o cultivo foi discutido no I Fórum da Cadeia Produtiva do Cravo: Diagnósticos e Potencialidades, promovido pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano (IF Baiano), campus Valença, durante a 20ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, iniciativa do Governo Federal através do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, desenvolvida em escolas, universidades, museus, instituições de ciência e tecnologia, centros de pesquisa, parques e jardins botânicos em todo o país.

O I Fórum da Cadeia Produtiva do Cravo, coordenado pela professora Maria Iraildes de Almeida Silva Matias, foi realizado na quadra do instituto com a participação de estudantes, cerca de 50 produtores rurais, entidades e movimentos rurais, poder público, universidades e instituições. O objetivo do evento foi apresentar informações sobre o diagnóstico e potencialidades do cravo-da-índia no Baixo Sul, além da articulação dos atores sociais em prol do desenvolvimento do cultivo.

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Geovane Guimarães, diretor-geral do IF Baiano campus Valença (Foto: Valença Agora)

O diretor-geral do IF Baiano campus Valença, Geovane Lima Guimarães abriu o evento dando as boas-vindas ao público e enfatizando o compromisso do instituto como espaço de conhecimento tecnológico, parceiro e mediador em prol do desenvolvimento do cravo. “Nosso campus está completamente imbuído nessa perspectiva de ajudar a melhorar essa cadeia produtiva do cravo”, afirmou.

O gestor também agradeceu ao deputado federal Raimundo Costa, que tem fomentado a cadeia produtiva do cravo e buscado reforços para contribuir com o desenvolvimento do cultivo na região.

Além de Geovane, formaram a mesa, o chefe-geral da Embrapa Mandioca e Fruticultura, Francisco Ferraz Laranjeira; o chefe da Ceplac/Valença, Antônio Jorge de Menezes; o engenheiro da Ceplac, Givaldo Ferreira Couto; o diretor de Associativismo da secretaria de Agricultura de Valença, José Velloso Vianna Filho; o agricultor Solano Miranda, membro do Comitê de Agricultura de Valença; e o pesquisador Dr. Julielton Santos da Silva. O evento teve como mediador o professor do campus, Ricardo Lopes Melo.

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Francisco Larangeira, chefe-geral da Embrapa Mandioca e Fruticultura (Foto: Valença Agora)

Francisco Laranjeira, chefe da Embrapa, sediada em Cruz das Almas, falou sobre a aproximação inédita da instituição com a região no âmbito da cadeia produtiva do cravo, a partir da provocação do deputado federal Raimundo Costa. “Temos a missão de apoiar o desenvolvimento regional, então temos historicamente uma série de trabalhos no baixo sul, e estamos sempre procurando parcerias, que podem ser institucionais ou com parlamentares, e nessa busca, o deputado federal Raimundo Costa acreditou no nosso trabalho e decidiu nos apoiar. Com isso passamos a discutir os problemas agrícola da região, e o cravo sobressaiu”, relatou. Laranjeira reafirmou seu compromisso em se unir à cadeia em prol do desenvolvimento do cultivo.

José Velloso e Givaldo Couto palestraram sobre os dados socioeconômicos e informações sobre o panorama do cravo no país e no mundo.

Segundo os ados apresentados, no baixo sul, o cravo é produzido nos seguintes municípios: Camamu, Gandu, Ibirapitanga, Igrapiúna, Ituberá, Jaguaripe, Presidente Tancredo Neves, Nilo Peçanha, Piraí do Norte, Taperoá, Teolândia, Valença e Wenceslau Guimarães, totalizando cerca de 12 mil hectares, com produção média de 6 mil toneladas/ano. Valença é responsável pela produção de 2 mil t.

O principal produto é a flor desidratada, de largo uso na culinária brasileira, na medicina e na perfumaria. De acordo com os estudiosos, “a mudança na preferência do consumidor pelo uso de produtos naturais, devido à maior eficácia e ausência de efeitos colaterais, tem levado ao aumento da demanda por cravo”.

São considerados gargalos da produção do cravo na região, o baixo nível gerencial e tecnológico, a mortalidade dos craveiros, a dificuldade com estradas (logística), a sazonalidade do cultivo, a baixa densidade de plantas, o material genético não selecionado, a falta de financiamento para manutenção (custeio), a falta de financiamento para cultivo (fomento) e a crescente violência no campo. Falta ainda indústrias para beneficiamento e infraestrutura adequada para secagem e armazenamento da produção.

Outras medidas apontadas durante o fórum visando o desenvolvimento da cadeia foram: articulação pública para regularizar o financiamento (custeio e fomento) do cultivo; articulação para controlar o agente causador de mortalidade; realização de seminários e cursos para o fortalecimento da cadeia produtiva/difusão do PACOTE TECNOLÓGICO; articulação com o Governo para secadores solares; articulação da Biofábrica para produção de mudas de melhor qualidade; apoio para assegurar processo de exportação; e regularização do uso do Ethrel.

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Julielton Santos, Doutor em Ciências Agrárias, que identificou as pragas dos craveiros (Foto: Valença Agora)

Julielton Santos da Silva, doutor em Ciências Agrárias (UFRB), apresentou um resumo da sua pesquisa sobre doenças do cravo, que findou na descoberta das pragas causadoras da mortalidade dos craveiros na região. A continuidade da pesquisa resultaria nos estudos de manejo e controle das pragas, sendo este um dos assuntos de maior interesse da cadeia produtiva atualmente, no entanto, por falta de verbas, não houve avanço. A expectativa a partir do Fórum, é que o pesquisador obtenha as condições para dar continuidade aos seus estudos relacionados aos craveiros.

“Com essa articulação de produtores, Embrapa, Prefeitura, IF Baiano, Governo do Estado, é o momento de a gente fazer uma reflexão profunda sobre a oportunidade que estamos tendo, pois diante da ameaça e dos prejuízos que essas enfermidades vêm dando e diante da importância econômica que o cravo tem para a região, devemos sair daqui com algumas diretrizes, e gostaríamos de continuar contando com Julielton para que a gente avance”, frisou Velloso.

Solano Miranda, produtor rural membro do Comitê de Agricultura de Valença (Foto: Valença Agora)

“Esse é um momento muito oportuno para daqui em diante darmos um rumo diferente à cravicultura”, animou-se o agricultor Solano, que faz parte de um grupo de produtores de cravo denominado Comitê da Agricultura. Solano destacou que, certa vez, ouviu de um pesquisador, que o Baixo Sul da Bahia era a região que tinha a maior diversidade de culturas agrícolas do mundo, em torno de 140. “Por outro lado, temos uma dificuldade tremenda de ordenar isso numa região em que a economia é estagnada, em que os agricultores são dispersos, em que as cooperativas geralmente se dobram ao poder da política ao invés de defender a pauta dos agricultores”. “Tudo isso tem levado a uma situação em que os produtores ficam sem organização social e fica até difícil para as entidades conseguir contribuir nessa luta”, pontuou Solano. O agricultor acredita que, a partir da articulação das instituições, o cenário do cravo pode melhorar.

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Antônio Jorge, chefe da Ceplac/Valença (Foto: Valença Agora)

O chefe do escritório da Ceplac, em Valença, Antônio Jorge, parabenizou a iniciativa e enalteceu a participação dos estudantes. “Cabe a vocês promoverem as mudanças que nós tanto desejamos”, afirmou. Antônio Jorge alertou que é preciso união e muito trabalho para que o cravo seja reconhecido da forma que merece e que políticas públicas possam ser criadas em valorização ao cultivo”. O agrônomo afirmou que a Ceplac está disposta e disponível para contribuir com o processo de desenvolvimento da cultura dos craveiros. “É a cultura que mais distribui renda em nossa região”, completou.

Ryan Costa demonstrou seu apoio à causa e representou o deputado Raimundo Costa (Foto: Valença Agora)

O vereador de Valença, Ryan Costa, prestigiou o evento e também representou o deputado federal Raimundo Costa (PODE), que tem apoiado ações da Embrapa no baixo sul baiano, por meio de emendas parlamentares; é um dos parceiros do IF Baiano e defensor do cultivo do cravo. Ryan reafirmou o seu compromisso e o de Raimundo Costa em contribuir com a agricultura de Valença e região. “Esse compromisso reflete a importância da representatividade política para a realização de ações em prol do desenvolvimento do município e do baixo sul. Não só a agricultura ganha com isso, mas toda a economia. Estamos à disposição na Câmara Municipal e na Câmara Federal para contribuir com esta causa”, destacou Ryan.

Presente no fórum também, diretor do Jornal Valença Agora e presidente da Associação Comercial e Empresarial de Valença (ACE), Vidalto Oiticica, representando a Casa do Empresário, instituições parcerias do IF Baiano.

Vidalto Oiticica, presidente da ACE e diretor executivo do Jornal Valença Agora (Foto: Valença Agora)

“Parabenizamos o IF Baiano por trazer às luzes um tema de tão grande relevância, não só no aspecto econômico do seu desenvolvimento de várias formas e maneiras, mas também no seu efeito psicológico, de mexer com a estima da crença de que é possível, que esse patrimônio nacional precisa ser zelado, pois ele é nosso. Já estava mais do que na hora de trazermos esse tema para o debate, que estava caminhando numa desatenção e num processo caótico, para transformá-lo num processo de desenvolvimento de fé, de crença, de proteção e desenvolvimento para maiores conquistas e elevação da nossa economia”, considerou Oiticica.

Dislene Cardoso, diretora acadêmica do IF Baiano, campus Valença (Foto: Valença Agora)

Ao final do evento, a diretora acadêmica Dislene Cardoso agradeceu a presença de todos e reafirmou o compromisso do instituto na difusão e incentivo ao conhecimento e pesquisa científica. Dislene ressaltou a importância da parceria entre as insituições para o desenvolvimento do território.

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Com mediação do IF Baiano, instituições se reuniram à tarde para os encaminhamentos (Foto: Divulgação)

À tarde, os representantes das instituições presentes no Fórum se reuniram com o objetivo de organizar as próximas ações referentes à emenda do deputado federal Raimundo Costa direcionada à Embrapa e à articulação com os produtores de cravo-da-índia da região. Na oportunidade também foi discutida a recriação da Associação de Produtores de Cravo (Aprocravo), com o intuito de fortalecer o desenvolvimento territorial do Baixo Sul e a inclusão sócio produtiva, em especial de comunidades tradicionais.

O IF Baiano vai mediar as ações entre as instituições envolvidas e produtores de cravo pensando alternativas para a cadeia produtiva do cravo da índia no baixo sul, informou a coordenadora do Fórum, Prof. Maria Iraildes.

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