Médico da Pró-Saúde, Dr. Klecius Cardim comenta sobre as principais hepatites e dá orientações sobre como preveni-las.

Neste mês de julho, todo o segmento de saúde volta os olhos e soma esforços em prol da prevenção contra as hepatites virais, devido a campanha “Julho Amarelo” adotada pelo Ministério da Saúde e pelo Comitê Estadual de Hepatites Virais. A falta do conhecimento da existência da doença é o grande desafio, pois de acordo com o Ministério da Saúde, três milhões de brasileiros estão infectados pela hepatite C, mas não sabem que têm o vírus. A recomendação é que todas as pessoas com mais de 45 anos de idade façam o teste gratuitamente em qualquer posto de saúde e, no caso positivo, façam o tratamento que está disponível na rede pública de saúde.

Para esclarecer mais sobre esse assunto, o Jornal Valença Agora entrevistou o médico Klecius Alves Cardim, que atende na Clínica Pró Saúde há 25 anos, clínica que em todas as campanhas de saúde engaja seus profissionais na disseminação das informações. Confira a entrevista!

Dr. Klecius quais os tipos de hepatites mais comuns e os mais perigosos?

As hepatites mais comuns são ‘A’, ‘B’ e ‘C’. As mais perigosas são a ‘B’ e ‘C’. A hepatite ‘A’, geralmente, as pessoas adquirem na infância, mas as pessoas tem que estar atentas para que se imunizem desde quando criança. A ‘A’ é uma hepatite de contaminação por falta de saneamento básico, por isso ocorre mais na infância. Não existe remédio para tratar a hepatite A, sua cura é espontânea. É importante a preocupação com o saneamento básico, com a higiene do corpo, higiene dos alimentos, porque esse é o mecanismo de contaminação, então devemos evitar comer alimentos crus pelo risco deles serem irrigados com água contaminada e esta água vai contaminar estes alimentos, este é o grande risco da contaminação pela hepatite A. A grande vantagem é que ela é 100% curável de maneira espontânea, não precisa tomar remédio, geralmente a identificação dessa hepatite é feita através de exames posteriores.

Existe um incentivo comercial para que as pessoas consumam cada vez mais alimentos crus. Neste caso, o que as pessoas podem fazer para se preservar de um alimento que esteja contaminado e não venha auto se contaminar.

No caso de vegetais crus como alface e etc., tanto pra hepatite como pra outros tipos de contaminação, como verminoses, é interessante fazer a descontaminação desse vegetal. Submergir esse vegetal em solução de água com hipoclorito de sódio (água sanitária), o equivalente a cinco gotas pra um litro de água e colocar nessa solução por no mínimo 30 minutos, depois pode consumir direto sem causar transtorno nenhum. No caso de animais como a ostra (crua), deve-se evitar esse tipo de alimento.

No caso da hepatite B, como acontece o contágio?

O contágio de hepatite B acontece basicamente através do sangue, qualquer mecanismo onde você tenha contato com algum objeto que já se contaminou com sangue de um portador, como agulha, faca, aparelho de barbear, escova de dente que algumas pessoas até compartilham, aparelhos de fazer unha, alicates, e a higiene desse objeto for mal feita, então aí está a principal contaminação do vírus B, embora o portador do vírus B tenha o vírus em qualquer secreção do corpo. Um dos mecanismos de transmissão do vírus B é o sexo sem camisinha, porque a secreção vaginal e a secreção masculina transmite o vírus, então não é apenas o contato com o sangue, qualquer lesão na pele, na mucosa da vagina ou do pênis, no ato da relação esse vírus pode ser transmitido. Também existe a possibilidade de contaminação em usuários de drogas por agulhas compartilhadas, também através de piercings. Outra maneira de adquirir a hepatite B é através dos instrumentos utilizados nas tatuagens.

Qual o percentual de cura para a hepatite B?

O percentual de pacientes com hepatite B que se curam sem tomar nada, sem às vezes nem saber que teve, é em torno de 75%, a cura acontece de forma espontânea. Os outros 25% seriam aqueles pacientes que tem hepatite fulminante (menos de 1%), que a hepatite é tão intensa que pode levar ao óbito. Tem paciente que sai da hepatite aguda e vai pra a chamada hepatite persistente, ou seja, ele mantém essa infecção por até seis meses e tem ainda o percentual dos pacientes que vão pra hepatite crônica, que é quando essa infecção se mantém após seis meses. Além desses casos do indivíduo que evolui com a hepatite, existe no vírus B, a possibilidade do indivíduo ser portador do vírus, transmitir o vírus, mas não desenvolver a doença.

Com relação à hepatite C, quais são as precauções e seu sistema de contaminação?

O sistema de contaminação da hepatite C é bem parecido com o vírus B, é através do sangue e pequeno percentual via sexual. Qualquer possibilidade de você ter contato com um objeto perfurante ou cortante, ou contato com uma lesão de um indivíduo que tenha hepatite C, você pode se contaminar através do contato com o sangue dele.  Um médico manipulando uma cirurgia, se ele furar-se com a agulha que ele está suturando um paciente com hepatite C, ele pode se contaminar. Então, contato com sangue, mesmo esquema de transmissão da hepatite B que foi falado agora a pouco.

Qual o percentual de cura da hepatite C?

Em torno de 85% dos pacientes que se contaminam pelo vírus C vão para cronicidade, isso significa que eles vão ficar com a doença pro resto da vida. Essa doença pode ficar por anos, 10, 20, 30 anos, muitas vezes o individuo só vem a descobrir que tem hepatite C, ou quando a doença complicou entrando pra uma cirrose ou até um tumor de fígado, ou então quando realiza um exame médico ‘acidental’. A descoberta do vírus geralmente acontece já no período crônico, onde é possível ver o grau de comprometimento que o indivíduo já tem. Tem fatores que agravam a doença da hepatite, o principal deles é o álcool, então o indivíduo que tem vírus B ou C, consciente disso ou não, ingere álcool, essa evolução da hepatite pra cirrose, pra um tumor de fígado (câncer de fígado) é mais rápida do que o indivíduo que não ingere álcool.

Existe alguma possibilidade do indivíduo contrair a hepatite D, sem ter tido nenhum outro tipo de hepatite?

Hepatite D é uma hepatite exclusiva da região da Amazônia e que só é possível adquiri-la se o individuo tiver o vírus B, é o que se chama de superinfecção. A hepatite D se insere sobre uma primeira hepatite, que no caso é a B.

Como a clínica Pró Saúde está estruturada para atender seus pacientes com relação a essas orientações e esses detalhes que no dia a dia as pessoas têm que ficar atentas para se prevenir contra as hepatites virais?

Hoje, tanto a hepatite B como a C, tem tratamento efetivo, medicações que tratam e curam, principalmente a C. Então, o importante da gente estar aqui é pra justamente encaminhar portadores desses vírus pro serviço público que faz esse tratamento, já que o tratamento privado é muito caro. O serviço público oferece isso da mesma maneira que trata AIDS e outras infecções virais, então a gente orienta esses pacientes e os encaminha o para o tratamento.

Qual a sua orientação para que a sociedade fique sempre atenta com essa visão da prevenção dessas doenças?

Precaução o nome já diz, é se precaver, prever a situação que pode lhe causar doença e evita-la. No caso da hepatite, tem que evitar contato com sangue, sexo inseguro é um perigo, porque a hepatite B e C são consideradas DST’s. Existem comportamentos sociais que são um perigo, por exemplo, no carnaval da Bahia, onde o indivíduo dá trinta beijos por dia, é perigoso se considerar que se beijam pessoas que você nunca viu na vida e que nunca mais vai ver, e não sabe se ela tem uma lesão na boca que pode facilitar a transmissão. Hoje como é mais frequente mulheres que fazem tatuagem, o risco de contaminação é ampliado e ,assim, exigem uma maior precaução do que antigamente quando esse uso era considerado de gueto e tatuagem é um risco, que tem que ser levado em conta na sociedade. As mudanças de hábitos sociais que parecem não ter uma consequência maior na vida, podem ter.

Porque a Pró Saúde, sempre se posiciona nessas campanhas nacionais dando a sua cota de contribuição?

Nossa função não é puramente o atendimento médico, nós temos uma função social. Atender o paciente é informar, é levar ao seu conhecimento tudo que está acontecendo, tirar todas as dúvidas, então a informação faz parte da atividade do médico, talvez seja a principal, a que faz o paciente entender o que está acontecendo com ele, consequentemente ele se sente responsável pelo que ele tem que fazer por ele mesmo.

Dr. Klecius, suas considerações finais.

Eu fico muito feliz em participar desse tipo de campanha. Acho que todo mundo de uma maneira ou de outra deve se engajar, e a informação nunca é pequena, ela é sempre grande, quanto mais se informar melhor. A medicina é uma das poucas profissões onde o médico sempre está buscando informações, ele nunca tem o conhecimento total porque o conhecimento na Medicina é muito dinâmico.

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