Moradora de Camaçari denunciou caso à Polícia Civil. Mãe prestou depoimento e confirmou relato da vítima; suspeito foi preso e nega acusações.

Uma jovem de 21 anos que mora no município de Camaçari, na região metropolitana de Salvador, usou as redes sociais para denunciar que ela e a mãe foram violentadas e torturadas durante anos pelo padrasto. O homem foi preso no dia 13 de fevereiro e, segundo a Polícia Civil, nega as acusações.

Eva Luana da Silva relatou em cinco posts no Instagram que o "caos" teve início quando ela estava com 12 anos. Ela conta que a mãe era constantemente vítima do companheiro e que, depois, passou a ser alvo dele também.

 

"Minha mãe era agredida, abusada, violada e torturada quase todos os dias. Meu padrasto era obsessivo e ciumento com ela. Resumindo de uma maneira geral, ela era agredida com chutes, joelhadas, objetos. Era abusada sexualmente de todas as formas possíveis. Era obrigada a tomar bebidas até vomitar e quando vomitava tinha que tomar o próprio vômito como castigo. Ele começou a me abusar sexualmente. Eu tinha nojo, repulsa, ódio e não entendia porque aquilo acontecia comigo. Me sentia uma criança estranha e diferente das outras", contou a jovem.

 

A delegada Florisbela Rodrigues, titular da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM) de Camaçari, disse que a jovem prestou depoimento no dia 30 de janeiro. A mãe dela também falou com a polícia e confirmou as denúncias da filha.

 

"Minha mãe apanhou tanto que teve um parto prematuro, meu irmão morreu depois de 6 dias de nascido. Quando ela estava grávida dele, levou diversos chutes e joelhadas na barriga. Ele não queria mais um filho", diz trecho de uma das postagens.

 

Ainda no Instagram, Eva diz que está sob proteção judicial. Após as postagens, recebeu várias mensagens de apoio nas redes sociais.

 

Tortura

Em um dos posts, ela diz que denunciou o caso uma vez, quando tinha 13 anos, mas que não deu em nada e ela foi obrigada a retirar a queixa por conta de ameaças do suspeito.

"Quando eu fiz 13 anos, denunciei. Nessa denúncia, eu tinha certeza que seria salva por todos. Mas não foi isso que aconteceu. O Estado falhou a tal ponto, que o meu caso não chegou nem ao Ministério Público. Fui obrigada a retirar a queixa por ameaças do meu padrasto. Ele utilizou o poder financeiro pra comprar a liberdade e comprar a minha alma. Porque ali eu perdi a minha alma. E o que eu fui denunciar, 1 ano de sofrimento, se multiplicou em mais 8 anos", relatou.

Após a tentativa frustrada de levar o padrasto para a cadeia, a jovem disse que os abusos, torturas e agressões aumentaram.

"Eu não tive mais vida social. Tudo era uma farsa. Ele nos obrigava a fingir que tínhamos uma família perfeita. As agressões eram verbais, físicas e psicológicas. Entre elas comer muito, em tempo estipulado. Isso aconteceu com uma pizza família, pra comer inteira em 10 minutos. Óbvio que não conseguimos. Também tomar 2 litros de refrigerante nesses 10 minutos. Eu levei socos no rosto, e ele não me deixava me proteger com a mão. Chutes até cair no chão e, de quatro, ele enfiou as pizzas na minha boca, me chamando de animal. Eu vomitei e comi meu próprio vômito. Meu gato comeu um pedaço e lambeu outro, ele me obrigou a comer o que ele havia lambido", destacou.

A jovem ainda relatou que era obrigada a fazer trabalhos de faculdade para o padrasto. "Se eu não fizesse perfeito, eu pagava o preço. Eu também respondia todas as provas da faculdade, era obrigada a sair mais cedo da minha aula pra responder às provas dele pelo celular. Existiam castigos e punições pra tudo. Até mesmo se eu não pagasse uma conta no banco que estava super lotado, mesmo tendo horários no trabalho ou estágio".

A jovem conta que tinha o celular vistoriado todos os dias.

 

"Ele desinstalava o WhatsApp e reinstalava novamente pra poder recuperar as conversas apagadas. Eu não podia namorar. Eu não podia sair com meus amigos, não tinha vínculo social com ninguém. Todos os vínculos eram vigiados e ele sempre respondia pessoas como se fosse eu. Todas as minhas senhas no celular, redes sociais e Gmail eram monitoradas por ele. Me vigiava na porta da sala da faculdade. Todos percebiam e me viam chorando".

 

"Ele me agredia nos estupros, mas depois de um tempo, só utilizou das ameaças contra a minha família. Eu era usada como um lixo. Já abortei diversas vezes. Nunca pude ir ao médico pra fazer curetagem. Todas as vezes sangrava e passava mal a noite inteira. Já vi os bebês inteiros no vaso sanitário. Eu era chamada de burra, anta, doente, demente todos os dias, e era obrigada a repetir isso pra mim mesma", relata a jovem.

 

"Eu já saí pelada na rua de madrugada, e ele dizia que era para eu ser estuprada por homens. Ele tirava fotos minhas com o meu celular e enviava pra ele mesmo, pra fingir que era eu, criava conversas nojentas com ele mesmo".

 

"Ele é um monstro. Perdi minha infância e adolescência. Me sentia um lixo por não ter forças pra pedir ajuda e por sentir tanto medo", afirmou.

 

A jovem ainda relata nos posts que decidiu novamente denunciar o padrasto e pedir ajuda porque "ou ele mataria ou eu me mataria. Tentei me suicidar várias vezes com cortes e remédios. Eu contei a verdade pois não aguentava mais".

No fim da denúncia, a jovem faz um apelo ao Estado. "Eu sou apaixonada pela vida e pela liberdade, eu pulei fases, pulei etapas, não tive adolescência, nem infância... Ele não pode sair impune, a justiça tem que ser feita o quanto antes. Estado, não falhe comigo novamente".

 

Em nota, o Ministério Público da Bahia (MP-BA) informou que ofereceu denúncia contra o suspeito no dia 11 de fevereiro, por todos os crimes narrados pela vítima. O MP afirmou que recebeu o inquérito da Delegacia de Atendimento à Mulher de Camaçari, no dia 7 de fevereiro, e ouviu a vítima no dia seguinte.

O Ministério Público informou também que solicitou medida de busca e apreensão de provas contra o suspeito, que cumprida no mesmo dia da prisão dele. A promotora de Justiça Anna Karina Senna, substituta na 10ª Promotoria de Justiça de Camaçari, e outras cinco promotoras de Justiça foram designadas para atuar na análise do inquérito. O processo penal está em segredo de justiça por força de lei, informou o MP-BA.

 

Fonte: G1 Bahia.

 

 

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