Ordem de Sérgio Moro é que o ex-presidente Lula se entregue em Curitiba até às 17h desta sexta.

 

*Informações do El País

 

"Fique tranquila. Os justos vencerão", disse Luiz Inácio Lula da Silva a uma militante que chorava nas dependências do Sindicato dos Metalúrgicos em São Bernardo do Campo. Já entrava a madrugada da sexta-feira, 6 de abril de 2018, a data marcada pelo juiz Sérgio Moro para que ele se entregue às autoridades e comece a cumprir sua pena de prisão. A ordem fulminante de detenção do magistrado chegara seis horas antes, nem um dia completo depois que o Supremo Tribunal Federal negou o pedido de habeas corpus que salvaria o petista. A aceleração do drama do líder mais popular do Brasil em décadas (e também um dos mais odiados) fez o país ir para a cama segurando a respiração à espera de um dia tenso e histórico. Se havia choro no berço político do petista, na região metropolitana de São Paulo, pelo país ouviu-se rojões e panelas dos que esperavam vê-lo atrás das grades o quanto antes.

 

A decisão de Moro surpreendeu Lula reunido, no fim da tarde, na sede do instituto que leva seu nome, em São Paulo. Pouco depois de conhecer a notícia, ele abandonou o edifício rumo ao sindicato. Foi seguido pelos helicópteros das TVs enquanto a militância do PT e de outros movimentos ligados à esquerda era convocada. Em pouco tempo, a sede dos metalúrgicos se converteu em uma espécie de bunker em sua defesa, com centenas de pessoas brandindo bandeiras ao redor e fazendo discursos de apoio.

 

Foi uma demonstração de resistência, mas até quando? O ex-presidente cogita não se entregar? A pergunta foi feita em coro pela imprensa ao advogado Cristiano Zanin, que preferiu deixá-la sem resposta. Zanin classificou a decisão de Moro de "ilegal". "Fomos surpreendidos por esse mandado de prisão", disse em referência à decisão do juiz da Operação da Lava Jato de desconsiderar um último prazo especial da defesa, uma praxe seguida no tribunal em que ele fora condenado a 12 anos e um mês de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro. Por várias métricas, o processo de Lula, que é réu em outros seis ações, foi mais rápido que a média da Lava Jato.

 

"Um inocente não se entrega", lançou o senador petista Lindbergh Farias à imprensa, também no sindicato. Outras palavras de ordem semelhantes também ressoaram enquanto pré-candidatos à presidência à esquerda, como Guilherme Boulos (PSOL), que levou em peso sua militância do movimento dos sem-teto, e Manuela D'Ávila (PCdoB), se revezavam para tirar fotos com Lula. O ex-presidente lidera a disputa eleitoral que provavelmente deve ser impedido de participar por causa da condenação e uma das grandes variáveis é para quem seus votos migrariam para além de um possível plano B a ser lançado pelo próprio PT.

 

Ações no STF

Como tem sido a conduta de Lula até agora, a frente política, que flerta retoricamente com a ideia de desconhecer todo o processo, conviveu com a frente jurídica, que segue apostando que há chances de que o desfecho do petista seja legalmente revertido. A defesa do Lula entrou, segundo a Folha de S. Paulo, com um novo pedido de habeas corpus. A maior esperança do petista de escapar de Moro, porém, seguia no STF. Uma liminar do Partido Ecológico Nacional (PEN) pediu que o Supremo impedisse qualquer execução provisória da pena até que a corte mais importante do país julgue a questão de fundo no caso Lula - se é legal ou não deter um réu que ainda pode recorrer de uma condenação. Quem está com o pedido na mão é o ministro Marco Aurélio Mello, que prometeu submetê-la à avaliação de todos os ministros da corte. Já há maioria no Supremo para que essa detenção provisória seja rejeitada, o que beneficiaria Lula. Em outras palavras, pode ser que essa iniciativa legal prospere, mas o tempo aqui é uma variável importante: nada seria resolvido antes de evitar que Lula seja preso - ao menos por alguns dias.

 

Se não houver nenhuma reviravolta no último minuto, o destino de um dos líderes mais populares do planeta será o cárcere em Curitiba, onde encontrará outros políticos que caíram na rede da Lava Jato, uma das maiores investigações contra corrupção do país. Estão lá o ex-presidente da Câmara dos Deputados -e cérebro do impeachment de Dilma Rousseff- Eduardo Cunha. E também outra presença que pode lhe resultar incômoda: o petista Antonio Palocci, o ex-ministro da Fazenda que tentou, sem sucesso, delatar a Moro os supostos crimes do seu antigo mentor.

 

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