Gilberto Paiva lança o que faltava para Valença ser uma cidade mais cultural

Para quem gosta, nada melhor que entrar numa livraria e sentir aquele cheirinho de centenas de milhares de livros novos, cheiro de papel com tinta. É como se uma mulher entrasse em uma loja de roupas de grife - sem querer ser machista - e desejar todas as novidades da butique. Valença, com 100 mil habitantes, não tem a primeira opção. Para quem gosta de ler e entrar numa boa livraria é preciso ir a Salvador, Rio de Janeiro ou São Paulo. Só nestes locais nasce o desejo incontrolável de comprar todos os lançamentos, com mais alguns do passado, claro.

Livraria Gil Paiva (2)

Gilberto Paiva

O cheiro do livro novo, porém, pode chegar até a casa do valenciano sem muito esforço. Foi ideia do Gilberto Paiva, 39 anos, que trabalha também como caixa em uma panificadora próxima ao centro da cidade. De uma simplicidade extrema, se transforma em profundo conhecedor das letras quando explica a sinopse de um livro a algum pretenso comprador. Aí esquece o tempo, o cansaço e não vê que o fim do dia já chegou. Para se ter uma ideia, o primeiro contato com a reportagem do VALENÇA AGORA teve que ser feito por escrito. Claro que não deu muito certo e tivemos que visitá-lo em seu local de trabalho.

Começou a carreira no ramo de livros distribuindo exemplares gratuitamente, através das redes sociais, títulos que ele achava que mereciam ser lidos. Decepcionou-se. Poucos se interessavam pelo projeto. Mesmo assim, não desistiu de contaminar outras pessoas pelo gosto da leitura, pela viagem que um livro proporciona a quem a ele se entrega. Queria que todos tivessem tido sua experiência, ao ler, aos sete anos de idade, “20 mil léguas submarinas”, do francês Júlio Verne. Como escreveu em sua carta, “fiquei encantado com a possibilidade de viajar por mares profundos, deixando a imaginação fluir”.

É exatamente essa a sensação que um escritor quer causar em um leitor. Viajar sem sair do sofá. Só que no Brasil, o hábito da leitura vem diminuindo a cada ano.

Para se ter uma ideia, apenas 52% da população brasileira tem o costume de ler, e ler pouco, cerca de cinco livros em 12 meses. Há quatro anos, esse número era maior, representando 56% dos brasileiros. Outros 48% da população brasileira, o que representa quase 100 milhões de pessoas, nunca leram um livro sequer. O número oscila de acordo com a evolução da internet e com a comunicação rápida pelas redes sociais, principalmente entre as classe mais ricas. “Não sobra tempo para a leitura”, é a resposta encontrada pela coordenadora da pesquisa, Zoara Failla, para explicar o hábito de não ler pelo brasileiro. Os dados estão publicados no “Retratos da Leitura no Brasil”, trabalho realizado no ano passado – antes da pandemia – pelo Instituto paulista Pró Livro, com o apoio do Itaú Cultural. Uma matéria extensa sobre o assunto foi publicada este ano no site de notícias Universo On Line (UOL). E coloca a Bíblia como o livro mais lido por aqui.

Livraria Gil Paiva (5)

 

Persistência

Gilberto teve, então, outra ideia. Ao invés de doar, vender.  Esperava que as pessoas dessem mais importância ao produto, pelo simples motivo de ter feito algum investimento. E deu certo. Criou a logomarca da Livraria Virtual e disponibilizou seu próprio número de telefone para os contatos comerciais. Aos poucos, as pessoas começaram a pedir indicação e títulos consagrados pela mídia. “Criei o nome, criei a logo, abri um perfil comercial no Instagram, no Facebook e, quando alguém comprava, era só contatar a distribuidora e ela mesma cuidava da entrega”, complementa.

 

‘Todo este projeto começou em 2015. “Nunca desisti, mesmo sabendo do pouco interesse pela leitura entre os valencianos”, diz ainda em carta Gil Paiva. No ano passado, veio a ideia da Feirinha do Livro, funcionando apenas um dia da semana, aos domingos, na rua João Leonardo da Silva, 79, na Urbis, quando tinha folga na panificadora onde trabalha. “Mas veio a pandemia e os negócios despencaram”, lamenta o idealizador, que só agora consegue enxergar uma luz para o futuro das vendas de livros em Valença.

 

“Não posso falar ainda em números nem em nossa receita, mas os negócios estão melhorando aos poucos”, confirmou Paiva, ao mesmo tempo em que atendia aos clientes no caixa da padaria.

A professora, escritora e poeta Celeste Martinez, que mora há tempos em Valença, descreve o esforço hercúleo para quem quer ampliar o número de leitores de livros na cidade. Ela mesma fundou e manteve, por dez anos, um programa radiofônico chamado “Alacazum – Um programa para Entreter. “Consegui bons resultados em se tratando de incentivo à leitura, mas o problema é a continuidade do projeto, que acaba saindo caro”, frisou a especialista.

Sem ela mesma saber, está sendo a principal divulgadora da Loja Virtual Gilberto Paiva. “As pessoas me perguntam onde podem comprar livros, indico a livraria virtual, mesmo desejando que Valença ainda tenha um espaço físico definitivo para este tipo de comércio”, reforça.

Público leitor existe. Tanto o programa Alacazum como a livraria digital se tornaram iniciativas que mostraram essa viabilidade. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) corroboram os ideais. Em 2017, 97,1% da população valenciana tinha acesso à escolarização. “Basta um impulso, um conselho, um comentário que seja sobre qualquer obra literária, para que esta alfabetização se transforme em leitura compreensiva”, destaca a pesquisadora Zoara Failla.

Além da população local, tem os turistas que lotam as praias nesta região praticamente o ano todo. Valença é a principal porta de entrada para Morro de São Paulo, Gamboa e Boipeba, locais procurados por gente do mundo inteiro. Esse fluxo de estrangeiros, acostumados a boas livrarias na Europa e Estados Unidos, ou até mesmo no Chile e na Argentina, seria mais uma opção para a venda de livros, principalmente os escritos na Bahia e sobre a Bahia. É preciso aproveitar as oportunidades. O telefone para contato com a loja virtual Gil Paiva é (75) 98807-2201.

Livraria Gil Paiva (1) - Copia

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Fonte: Jornal Valença Agora

 

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