A Reviver Administração Prisional Privada Ltda., empresa cogestora do Conjunto Penal de Valença-Ba, realizou de 25 a 29 de outubro, na sede do Construir Melhor, o curso de “Capacitação e recapacitação em unidades prisionais”, destinado a 69 candidatos que aguardam a abertura de vagas de agente de disciplina (agente penitenciário).

O jornal Valença Agora conversou com a gerente administrativa da unidade prisional de Valença, Ângela Denis do Nascimento Feitosa, que explicou na entrevista a seguir, o objetivo da capacitação e falou a respeito da unidade prisional. Confira:

V.A - Ângela, qual o objetivo desse curso de capacitação?

Ângela - Reviver realiza esse trabalho de capacitação dos candidatos para que eles ao adentrarem a unidade prisional, possam exercer a função de agente de disciplina.

V.A - Como foi feita a seleção desses candidatos que estão hoje participando deste curso?

Ângela - O primeiro contato com estes alunos é o processo de entrevista que é realizado dentro da unidade prisional. Nesse processo é realizada toda uma avaliação dos requisitos necessários, de pesquisa social, do perfil em si do candidato, após a seleção esses alunos são informados do período e local do curso que é este que está sendo concluído aqui hoje. Durante esse curso eles também são avaliados por monitores de turma que verificam o perfil, a participação e o comprometimento deles, a partir daí a gente já faz uma avaliação geral de cada candidato e eles ficam no quadro reserva da empresa. Surgindo vagas, a gente vai chamando gradativamente de acordo com a avaliação deles nesse período do curso.

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69 alunos participaram da capacitação

V.A - Depois da seleção e desse treinamento de cinco dias, caso haja contratação, existe na empresa um processo de supervisão permanente em relação à avaliação desses novos contratados?

Ângela - Após serem chamados pra contratação, eles passam um período de 30 dias acompanhados pelo supervisor. São treinados também dentro dos procedimentos internos da unidade, passam por todos os postos de serviço para conhecer a atividade da unidade, assim como os procedimentos porque a empresa é certificada pela ISO9001, então ela tem um sistema de gestão da qualidade, onde descreve todos os procedimentos padrões da empresa para atuar em cada área.

V.A - Falar em unidade prisional remete à sociedade uma sensação de insegurança. Como está o trabalho da Reviver no presídio Valença hoje?

Ângela - A Reviver realiza um trabalho visando muito a ressocialização, ela busca realizar da melhor forma possível o trabalho de cogestão junto com a parceria do Estado da Bahia. A empresa busca sempre cumprir o Edital que é cobrado pelo Estado, mas também realiza um trabalho - projetos e atividades - voltado para que os internos após receberem o alvará de soltura, possam ingressar na sociedade e ter uma vida digna.

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Ao todo, 21 mulheres participaram do curso.

V.A - A maioria desses detentos quando saem, geralmente ficam em Valença, ou vão pra sua cidade de origem?

Ângela - A gente não tem como estipular pra onde eles vão quando saem, a grande maioria é daqui de Valença, mas temos de alguns municípios vizinhos que trazem internos pra cá, muitos retornam pra família, outros ficam por aqui, mas a gente não tem como ter uma noção de para onde esses internos vão.

V.A - O que mais a senhora poderia acrescentar da importância desse curso e da participação desse grupo que você selecionou.

Ângela - O curso não é só a parte das informações, mas também pra mostrar a eles [candidatos] que unidade prisional não é como um comércio, uma loja em que você chega ali, atua e vai fazer uma venda, é uma área de segurança e eles vão trabalhar com gente, então temos uma preocupação muito grande com as pessoas que vão adentrar na unidade. Há um bom tempo que não temos nenhuma incidência na unidade, mas pode ocorrer, então a gente busca muito observar, acompanhar esses candidatos pra ver se realmente eles tem um perfil não só físico, mas psicológico e emocional pra assumir a função. Sobre a avaliação da turma, a gente estava parabenizando porque houve uma participação muito boa, lógico que existem alguns que a gente pontua negativamente, mas a grande participação deles foi positiva.

 

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“Esse é um trabalho muito importante pra função que nós exercemos hoje de agente de disciplina. Com essa capacitação qualquer pessoa que queira ingressar na unidade prisional, já estará preparada, terá todo o conhecimento prático e teórico pra desenvolver as funções que ali são ordenadas diariamente” - Wender Silva, agente penitenciário, que coordena o grupo que está sendo capacitado pela Reviver.

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Valdineia Santos de Santana é uma das 21 mulheres participantes da capacitação. A vontade de trabalhar no presídio veio do sonho de entrar para a carreira militar. “Minha idade não permite mais entrar pra Polícia Militar, então como obtive essa oportunidade, estou aqui correndo atrás de uma vaga pra entrar na Reviver [Conjunto Penal]”, conta. Valdineia acrescentou que achou o curso “extraordinário, com conhecimentos que são válidos pra vida toda”.

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Também entrevistamos o representante do Governo do Estado que atua nas unidades penais. Acompanhe:

V.A. - Existe hoje um processo de seleção que é feito pela Reviver em parceria com o Governo do Estado, mas existe ainda na sociedade certo preconceito das pessoas buscarem essa vaga e se capacitar com esse fim. Qual a importância e como você avalia essa profissão de trabalhar como agente penitenciário?

anuncie_agoraRepresentante Gov/BA - Lhe digo que o correto é que venham entender como é a operacionalização dentro da unidade prisional. Quando nós buscamos as pessoas no mercado e as trazemos para fazer a capacitação, é justamente pra mostrar que uma unidade prisional funciona como outro órgão qualquer. As pessoas precisam entender que nós estamos ali fazendo um papel de segurança, mas também cuidando para que essas pessoas retornem para a sociedade em uma melhor situação. A capacitação abrange vários aspectos, principalmente, direcionados à unidade prisional, ela vai desde o tratamento de uma pessoa para com a outra, até os processos de gerenciamento de uma possível crise. Se um de nós tem algum ente querido dentro de uma unidade prisional, como é que nós gostaríamos de ter essa unidade para tratar alguém nosso? É nessa reflexão e processo que nós capacitamos essa mão-de-obra.

V.A. – A sociedade vivencia uma sensação de insegurança, o que também propicia o preconceito com ex-detentos, mas há a necessidade da sociedade acolher essas pessoas que foram preparadas para integrar novamente a mesma. Qual mensagem de orientação o senhor deixaria para que a sociedade se comportasse em relação a essas pessoas que retornam para o convívio social?

Representante Gov/BA - Primeiro é conhecer o passo a passo de uma administração de unidade prisional. As pessoas pensam que lá só é trabalhada a segurança, mas não, nós temos advogado, assistente social, terapeuta ocupacional, odontólogo, médicos, e, o corpo de pessoal da área de segurança é agregado a esses profissionais. A alimentação é feita dentro da unidade o que vai para os internos, está direcionado também para diretoria e todo o corpo de colaboradores, ou seja, digo às pessoas que ainda têm essa crítica, que venham entender como é uma administração prisional.

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Lais Freire cedeu o espaço do Construir Melhor.

V.A. – A sociedade pode ficar tranquila de que as pessoas que saem da unidade prisional têm capacidade para conviver socialmente sem voltar a praticar atos criminosos?

Representante Gov/BA - Nós estamos fazendo o nosso papel, tentando da melhor maneira que essas pessoas retornem pra sociedade bem melhor. Para garantir isso, nós precisamos trabalhar muito mais, isso precisa da união de todos, não só da área prisional e sim de um todo. Quando a sociedade entender que mesmo as pessoas que estão lá encarceradas precisam que cada um faça a sua parte, aí sim teremos um conjunto de forças para que realmente esses seres humanos retornem para a sociedade em condição ainda mais favorável.

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De acordo com a gerente administrativa do Conjunto Penal de Valença, Ângela Feitosa, a Construir Melhor é uma parceira da Reviver. “Todos os eventos que a gente realiza nós utilizamos a estrutura física do Construir Melhor”, afirmou. Sobre essa parceira, conversamos com Laís Freire, diretora executiva do Construir Melhor. Leia seu depoimento:

“A gente tem uma parceria com o grupo Reviver já alguns anos cedendo nosso espaço para que os alunos, agentes penitenciários ou integrantes participem de formações. Pra Construir Melhor é importante porque nós somos uma associação, nós estamos a serviço da comunidade. Temos aqui um equipamento que talvez no município não tenha outro igual, então o Construir atende perfeitamente à necessidade da Reviver. Além também de fazer com que as pessoas de Valença, Baixo Sul e do Recôncavo passem a conhecer o nosso trabalho e o objeto social da associação, que é fazer a formação de jovens voltados para a construção civil. Então é muito positivo, gratificante inclusive poder atender essas pessoas e fazer também com que elas percebam que existe uma escola com esse formato, com essa metodologia, que atende aqui os jovens da região do Baixo Sul e do Recôncavo para dar novas possibilidades a esses jovens, e também pra própria comunidade perceber que o grupo Reviver trabalha com essa parte de capacitação, de nova seleção de pessoas, e que o município está trabalhando pra também apoiar na segurança pública, é mais um braço de apoio, a Construir Melhor mostrando pra comunidade que também existe essa preocupação com a segurança, com a educação formativa desses agentes, desses funcionários e da própria sociedade em geral”.

Reportagem e Fotos: Jornal Valença Agora

 

 

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