Popularmente conhecidas como abelhas sem ferrão, as Meliponas, dentre várias características, não apresentam um ferrão funcional como o que está presente nas conhecidas abelhas “europeias, africanizadas ou italianas”,pertencentes ao gênero Apis. Diferentes destas, umas das principais formas de reconhecimentos das abelhas sem ferrão na natureza é pela entrada do ninho.Algumas espécies possuem a arquitetura formada por barro (Meliponas, exemplo uruçu-verdadeira) e outras formada por resinas (Trigonas, exemplo jataí), (Fig. 01). Algumas apresentam o corpo robusto, coberto de pêlos, amarelos e são facilmente confundidas com as abelhas africanizadas.Outras apresentam o corpo com cores intensas e metálicas, as conhecidas abelhas das orquídeas. Algumas podem ser pequenas, de cor preta e parecidas com “mosquitinhos”. Podem construir seus ninhos em ocos de árvores, no chão ou em fendas de construções como alvenarias. Dentro da colmeia estão presentes os discos de cria(Fig. 02), que dependendo da espécie podem estar organizados em “degraus”, empilhados um em cima do outro,separados por pequenos pilares de cera, ou podem ser em formas de “cachos”.

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Figura 1- Entrada do ninho deuruçu-amarela (Melipona mondury). Foto: Acervo pessoal

 

Dentre as espécies de abelhas sem ferrão que ocorrem na Bahia, em especial na região Baixo Sul, onde o município de Valença está localizado, podemos destacar: uruçu-verdadeira (Melipona scutellaris), uruçu-amarela (M. monduri), jataí (Tetragonisca angustula), arapuá/ irapuã ou abelha-cachorro (Trigona sp.). Dentro da colmeia, estão presentes as operárias, que realizam a coleta de materiais na natureza importantes para a manutenção do enxame, além da abelha rainha, zangão e “princesas” (abelhas jovens que se tornarão as futuras rainhas) (Fig. 03). A depender da espécie, podem ser encontrados de 2.000 a 5.000 mil indivíduos/colmeia, que junto com as condições ambientais e principalmente o pasto meliponícola local (espécies de plantas que são fontes de alimento para as melíponas), podem ser produzidos 2 ou 2,5 litros de mel/ colmeia no período de 1 ano.Assim, esse grupo de abelhas,além de possuírem um comportamento menos defensivo, torna-se uma excelente proposta para complementação da renda de agricultores familiares. É importante agente lembrar que a principal função das abelhas na natureza é polinizar as flores, e não produzir o mel, o pólen (samburá), a resina, própolis (geoprópolis),cera entre outros produtos conhecidos.Todos esses itens que existem na colmeia são resultados secundários, fruto, do trabalho das operárias.

 

Esse processo de polinização ocorre quando o pólen que está numa flor (macho) é carregado pela força do vento, da água, até mesmo de forma artificial pelas mãos do homem, e por várias espécies de insetos, e cai sobre a parte feminina de outra flor.Entre os insetos, as abelhas sem ferrão destacam-se por realizarem mais de 60% da polinização de várias culturas, sobretudo as de potencial alimentícios. Logo, essas abelhas são responsáveis pela manutenção de várias espécies de plantas nativas, como por exemplo leucena (Leucaena sp.), baraúna (Schinopsis sp.), além de possuírem afinidade em visitar outras plantas introduzidas, e frutíferas que estão presentes nos quintais de nossas casas, como por exemplo a goiaba (Psidiumguajava), a jabuticaba (Myrcia sp.). Contudo, a partir de mais estudos, conhecimentos e divulgação de informações sobre as características, comportamento e importância do papel das abelhas sem ferrão na natureza a real e contínua conservação das espécies desse grupo de insetos, de fato,  acontecerá.

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Figura 2- Interior do enxame de uruçu-amarela (Meliponamondury); (A) Abelha rainha e (B) operárias da espécie. Foto: Acervo pessoal

 

Zaline dos Santos Lopes1

1Bióloga, Mestre em Genética, Biodiversidade e Conservação, Professora substituta - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano –campusValença-BA

zalinelopes@yahoo.com.br

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