Emissões globais aumentaram nos dois últimos anos e atual trajetória indica aumento global entre 2,4 a 2,9 oC até 2100

Representantes do Centro Climático do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP, na sigla em inglês), do Instituto Internacional de Análise de Sistemas Aplicados (IIASA), do Climate Action Tracker e da Universidade de Utrecht reiteraram, durante a COP28, em Dubai, a necessidade de ação imediata para reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) globais. As palestras foram realizadas no evento sobre as perspectivas científicas em direção ao net-zero promovido pela Convenção do Clima.

“O grande problema que visualizamos neste momento é 2030. As emissões de acordo com as atuais promessas apresentadas para as NDCs estão duas vezes maiores do que deveriam ser para atingir as metas de limitar o aquecimento em 1,5 oC”, afirmou o professor Nicklas Höhne, fundador do Climate Action Tracker.

No mesmo dia, uma apresentação da UNEP sobre o que é necessário para o balanço global de carbono (Global Stocktake) a partir do Relatório de Lacunas da UNEP e do Relatório Síntese sobre NDC da UNFCCC destacou que as emissões globais alcançaram um novo recorde em 2022, alcançando 57,4 GtCO2eq – um aumento de 1,2% de 2021 para 2022. Todos os setores, com exceção de transportes, recuperaram os níveis de emissões pré-pandemia.

De acordo com a agência da ONU, apenas nove países revisaram e fortaleceram as metas para 2030. Se todas as NDCs fossem implementadas hoje, a expectativa é de reduzir 0,1 gigatoneladas de carbono equivalente anualmente até 2030, nível incompatível com o compromisso das Partes junto ao Acordo de Paris.

Na avaliação do supervisor do Inventário Nacional do projeto da Quinta Comunicação Nacional do Brasil à Convenção do Clima, Régis Rathmann, a preocupação dos cientistas em torno de 1,5oC envolve as possíveis e ainda desconhecidas reações que o aquecimento global acima dessa média possa desencadear.

De acordo com Rathmann, os modelos climáticos ainda não conseguem captar, com elevado grau de certeza, efeitos de segunda ordem dos impactos da mudança do clima. Este é o caso, por exemplo, dos efeitos que seriam causados pela liberação dos gases poluidores contidos no permafrost de regiões dos polos Ártico e Antártico. Permafrost são grandes áreas de solo congelado localizados especialmente no Hemisfério Norte.

“A ciência ainda não consegue prever, com elevado grau de precisão, todos os impactos oriundos de um aquecimento global superior a 2oC. Por isso, a ação climática imediata é tão necessária. Trata-se de evitar seguir uma trajetória desconhecida pelos seres humanos”, explica.

Janela para reverter processo

A boa notícia em meio a tantas perspectivas e projeções negativas é que há uma série de fatos que indicam que o processo ainda pode ser revertido. A pressão social tem fomentado ações de governos e de empresas. Segundo Rathmann, o setor financeiro incorporou o risco de carbono nas análises de investimentos. Os principais segmentos industriais, que envolvem as áreas de siderurgia, química e de cimento, dispõem de estratégias e planos para alcançar emissões nulas de carbono. “Juntas, essas áreas respondem por cerca de 70% das emissões globais do setor industrial”, explica o supervisor.

Do ponto de vista tecnológico, as fontes de energia renováveis atingiram paridade de custo com a geração fóssil. Mais do que isso, a eletrificação de transportes e em edificações é uma realidade. A indústria automobilística adotou os modelos híbridos e elétricos e intenciona comercializar somente esses modelos a partir de 2030. “Se trata de ampliar a ação, particularmente com maior resposta de redução de emissões pelo lado da demanda para não perder uma janela de oportunidade que está se fechando”, conclui Rathmann.

Fonte: MCTI

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