Acusado era casado com a tia das jovens que denunciaram os abusos; empresário responde processo em liberdade

Conversas com amigas encorajaram uma jovem a denunciar o ex-marido da tia por abuso sexual, em Valença, que logo após descobriu que a irmã também teria sido vítima do tio. A denúncia ocorreu em julho de 2018 e o processo segue em segredo de justiça.

O acusado de provocar os supostos abusos sexuais é o empresário valenciano, que era casado com a tia das jovens, que pediu divórcio após o caso ser denunciado. De acordo com a acusação, os abusos ocorriam na residência das vítimas e durante estadias em casa de praia.

Em conversa com o site BNews, uma das jovens, hoje com 22 anos, revelou que os abusos tiveram início aos 5 anos de idade. Segundo ela, os atos não duraram tanto quanto os sofridos pela irmã mais nova, responsável por romper o silêncio em 2018. "Ele já apontou arma para ela. Ele tinha uma espingarda em casa, apontava para a arma dizendo que ia acontecer algo com meus pais caso ela (a adolescente) contasse para alguém", disse, com base no depoimento da irmã. Apesar do porte legal, o empresário teve a arma apreendida por determinação judicial.

“Ele apontava a arma no rosto da irmã, a colocou no carro e levou ela pra estuprar na praia que ficava perto da nossa cidade [...] da última vez que o estupro aconteceu ele socou a barriga dela e o rosto dela”, relatou a irmã mais nova em entrevista ao programa Balanço Geral exibido na tarde desta sexta-feira (7).

A vítima demonstra temor de descumprimento de medida protetiva imposta pela Justiça. O acusado está proibido de portar armas, frequentar bares e de ficar a menos de 300 metros das duas supostas vítimas e seus familiares.  "Tenho muito medo com o que pode acontecer com minha irmã, com meus pais e minha família", revelou a jovem, que atualmente mora em Salvador e cursa Direito em uma faculdade particular. Ela se manteve em silêncio e só revelou também ter sofrido os abusos após saber da denúncia feita pela irmã adolescente.

“Nós temos muito medo dele ainda, pois embora exista a medida protetiva, a Justiça permitiu que ele continuasse usando um escritório para trabalhar que fica a menos de 20m da nossa casa”, desabafou uma das vítimas.

De acordo com a medida protetiva o acusado não poderia viajar sem autorização judicial, porém, uma das vítimas informou que o juiz revogou esta determinação. O empresário não se encontra no estado da Bahia. Ainda não obtivemos informações de onde ele estaria.

Ainda no programa Balanço Geral exibido na tarde de hoje, a presidente da OAB Mulher, Dra. Renata Deiró expôs sua visão sobre o caso. “O delegado que está conduzindo o inquérito e o juiz que está conduzindo o processo podem pedir a prisão desse homem para que ele responda pelo crime de descumprimento da medida protetiva e é importante que isso seja feito porque a vítima é que está sendo privada da liberdade, enquanto o algoz está livre”, avaliou.

O suposto caso de estupro foi registrado na 1ª Delegacia Territorial (DT/Valença). "O inquérito foi presidido pelo delegado plantonista, já foi remetido à Justiça e o procedimento está acontecendo em segredo de Justiça", informou o delegado titular Bruno Pereira à reportagem do BNews, na manhã desta quinta-feira (6).

TRAUMAS

Por causa dos abusos sofridos durante anos, irmã mais nova, de 16 anos, precisou de acompanhamento psicológico. "A fase de medo e insegurança já passou, foi cruel, mas passou. Hoje ela se sente encorajada", afirmou a estudante, confortada pelo apoio que as duas têm recebido. As jovens são filhas de um casal de empresários da região.

Conforme relatado, a adolescente sofreu por mais tempo. "A mais nova está totalmente destruída", salientou Natália Petersen, advogada das vítimas. A adolescente, que começou a ser abusada ainda na infância, conforme registrado na denúncia, recorreu ao disque denúncia após ser agredida fisicamente pelo acusado em uma praia.

De acordo com a advogada da família, o trabalho da acusação esbarra na falta de provas que comprovem as relações sexuais. "Estamos em uma situação muito complicada. Como os atos aconteceram há muito tempo e ela (a adolescente) só teve coragem de denunciar bem depois, a gente não tem laudo pericial, mas temos a coerência muito grande da fala das vítimas", observou.

Ainda segundo Natália Petersen, a aparição de outras vítimas deve contribuir para a acusação. "A gente soube do relato de uma ex-empregada doméstica, que disse não ter sido estuprada, mas que foi assediada, inclusive, na frente da ex-patroa", apontou.

As declarações da advogada foram concedidas à reportagem do BNews.

Após duas audiências, o caso passará por nova audiência no dia 4 de setembro, no Fórum Gonçalo Porto, em Valença. Antes, no dia 15 de junho, uma manifestação será realizada na cidade para cobrar justiça e alertar a população para casos semelhantes.

O jornal Valença Agora tentou entrar em contato com o empresário acusado, mas não obteve êxito.

CAMPANHA CONTRA O ABUSO SEXUAL

Uma caminhada contra o abuso sexual de crianças e adolescentes está agendada para acontecer no próximo dia 15 de junho, às 14 horas, em Valença, com concentração na Praça da República. As vítimas, familiares e amigos articulam a manifestação que tem ganhado adesão de várias pessoas da sociedade. Os participantes vestiram amarelo e branco em alusão à campanha do Dia Nacional Contra o Abuso Sexual de Crianças e Adolescentes.

“Nossa finalidade com essa campanha é encorajar as pessoas a denunciarem, ninguém deve se calar”, afirmou uma das vítimas.

Fonte: BN News/Jornal Valença Agora

Foto: PabloMHVidal, out 2013

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