Delegada Argimária Soares destaca a conquista do Núcleo de Atendimento à Mulher no combate à violência de gênero, doméstica e familiar

O Núcleo Especial de Atendimento à Mulher – NEAM Valença, está previsto para ser inaugurado na primeira quinzena deste mês. Localizado na Rua Cidade do Rio de Janeiro, nº01, bairro do Novo Horizonte, o equipamento reforçará a prevenção e o combate à violência de gênero, doméstica e familiar. O serviço é resultado da parceria entre o Governo do Estado, por meio de sua secretaria de Segurança Pública, e a Prefeitura de Valença, através da secretaria de Promoção Social. A conquista é fruto de esforço conjunto que envolveu mulheres, polícia, políticos, empresários e instituições da sociedade civil organizada.

Neste Você Agora trazemos uma entrevista com a delegada da Polícia Civil, Argimária Freitas, que estará à frente da condução do NEAM, em Valença.

Valença Agora– Argimária, nos fale o que é o NEAM.

Argimária Soares – O NEAM é um Núcleo Especial de Atendimento à Mulher, vinculado ao Departamento de Polícia do Interior, que pertence a 5ª COORPIN, e que vai tratar as questões de violência de gênero doméstica e familiar de uma forma diferenciada no que for pertinente às ações da polícia judiciária, bem como ao primeiro acolhimento que será ofertado pela equipe da Promoção Social, que trabalha em conjunto conosco nesse projeto.

Valença Agora – Por que a escolha de uma delegada mulher para chefiar o NEAM?

Argimária Soares – Na verdade, existe uma exigência legal de que o atendimento seja feito preferencialmente por mulheres. No caso, eu estou responsável pelo NEAM, que ainda é um núcleo, não uma delegacia especializada. A presença da mulher na atividade específica desse atendimento possibilita que as mulheres possam se expressar melhor e sejam melhor compreendidas. O pessoal é treinado para esse acolhimento, para essa escuta especializada, com o objetivo de humanizar o máximo possível o atendimento dessas vítimas que estão sofrendo violência.

Valença Agora – Na sua opinião, qual a contribuição na área psicológica que o NEAM proporcionará a nossa sociedade, quando ativar seu funcionamento?

Argimária Soares – No meu entendimento o efeito psicológico que o advento do NEAM vai causar na sociedade valenciana, é principalmente no olhar masculino, que vai começar a compreender que as mulheres realmente estão sendo priorizadas no município, que existe não só Coletivos que dão vez e voz, mas o próprio poder público, através da Secretaria Municipal da Promoção Social, da Polícia Judiciária, da Secretaria de Segurança Pública, através dos seus agentes, empenhados em ofertar um trabalho de melhor qualidade e direcionado a essas vítimas, e isso vai fazer com que essas mulheres se sintam também valorizadas e respeitadas. Enquanto política pública, o efeito é extremamente positivo, porque transmite às mulheres uma sensação de segurança e de amparo, elas sabem que serão escutadas, acolhidas, que aqui terá mulheres e homens que estarão em sua defesa.

Valença Agora – Argimária, esse é um equipamento que vai contribuir com uma melhor visão, não só do empoderamento, mas da educação social, que pode, inclusive, surtir efeitos positivos na redução da criminalidade em geral. Como você avalia essa expectativa de repercussão positiva do NEAM nesses outros aspectos da segurança pública?

Argimária Soares – O NEAM vai atender casos de violência de gênero, doméstica e familiar, esses tipos de violência ocorre geralmente dentro da família, em face disso nós vamos ter contato com toda uma realidade familiar, a partir de profissionais capacitados como psicológico, assistente social, além dos profissionais que vão estar atuando na área de polícia judiciária. A nossa expectativa é de que nós possamos também fazer um atendimento em paralelo, através desses profissionais, com as crianças, porque quando uma mulher é espancada toda a família sofre, a vizinhança muitas vezes compartilha daquele sofrimento, então é um crime muito sensível, é um crime democrático, porque ele não escolhe classe social, e esse instrumento, o NEAM visa esse atendimento diferenciado. Ainda não somos quem queremos ser, estamos engatinhando, é só o início, mas pretendemos não ficar apenas na repressão, mas atuar principalmente na prevenção, trazendo a sociedade para próximo da polícia, conversando, fazendo com que essa mulher se reconheça mulher, que ela tenha claro a sua identidade de mulher, que ela não é um objeto do homem, ela não pertence ao homem, o casal precisam se respeitar, em uma relação conjugal, em uma relação de afeto, principalmente deve imperar o respeito. Se a convivência não é mais possível, que cada um siga o seu caminho, sem violência, dentro dos padrões de urbanidade e é isso que nós pretendemos disseminar e fortalecer.

WhatsApp Image 2022-06-01 at 11.53.59 (1)

Valença Agora – Qual mensagem você deixa para sociedade valenciana da importância do NEAM e como a sociedade deve se comportar em relação a ele?

Argimária Soares Eu identifico esse Núcleo como uma grande conquista, fruto da luta de muitas mulheres ao longo de décadas, porque essa luta é antiga, muitas mulheres deixaram seus nomes nessa história e hoje esse sonho se torna realidade. Seria muito bom que toda a sociedade, homens e mulheres, pudessem vir conhecer esse projeto, a proposta de acolhimento. Isso aqui é fruto da parceria do município de Valença, de Cairu, de Presidente Tancredo Neves, dos empresários de Morro de São Paulo, de Valença, políticos, e toda a cidade precisa se engajar porque isso aqui é uma conquista diária. O crime é dinâmico e nós precisamos avançar, o ideal é tornar esse Núcleo um projeto piloto de atendimento, acolhimento e combate a esse tipo de violência.

Valença Agora – A segurança pública é constitucionalmente um dever do governo e responsabilidade de todos, mas essa concepção ainda está muito longínqua do ideal. Em relação à violência doméstica e familiar, agora com o NEAM, como a sociedade deve se comportar? Haverá um contato telefônico para denúncias?

Argimária Soares – Nós pretendemos colocar à disposição da sociedade um número de whatsapp, estamos buscando parcerias nesse sentido. Vamos estar aqui com o pessoal capacitado para fazer a triagem destas denúncias e fazer os devidos encaminhamentos de Polícia Judiciária para apuração de tais crimes. Como o NEAM ainda não foi inaugurado, eu não posso disponibilizar esse número no momento. Nós esperamos que esta inauguração aconteça nos primeiros dias de junho. Esse número para denúncias, que será disponibilizado, será um instrumento em favor da sociedade, em favor das nossas mulheres. Essa história de que em briga de marido e mulher ninguém mete a colher, é mito, temos que meter a colher, defender, ligar para a política, denunciar, porque esse é um problema de todos nós e só dessa forma é que nós vamos poder combater mais eficazmente esse tipo de crime. Pedimos a participação da sociedade, chega de violência, nós não podemos mais permitir que o nosso país continue num ranking como o 5º mais violento do mundo para as mulheres e essa mudança depende de cada um de nós, essa mudança de consciência precisa começar em mim e em você. Eu vou deixar aqui o lema do Quintas Feministas, que “nós somos todas elas, a dor de uma mulher é a dor de todas nós.” E tenho que destacar que o Núcleo, além de exercer as funções de polícia judiciária, ele estará também imbuído numa conscientização de educação social para todos os envolvidos. Nós não queremos e não ficamos felizes quando taxamos um homem de agressor ou quando temos que indiciar um homem, nós queremos sim que esse homem reveja a sua postura, repense no seu posicionamento enquanto membro familiar e na sua relação de afeto com os seus.

Valença Agora – Como você avalia o efeito inibidor da prática de violência que a existência de um equipamento como o NEAM pode causar nos homens.

Argimária Soares – Nós esperamos que a criação desse Núcleo possa ser um fator positivo, porque nós vamos trabalhar com a repressão, depois que o crime acontece, mas também com a prevenção. O Núcleo, em parceria com organismos sociais, pretende estar tentando quebrar essa cultura machista tão enraizada entre nós historicamente, trazendo esse homem para o diálogo, para a sala de aula. Temos projetos muito interessantes que serão implantados, em parceria com o município, que vão dar a esse homem um novo olhar. E pela minha experiência enquanto ativista do coletivo Quintas Feministas, como delegada de Polícia, como parceira do Centro de Referência em Atendimento à Mulher - CRAM, percebo que muitas vezes o homem agressor, quando é identificado e temos essa possibilidade de diálogo, em alguns casos, surte um efeito positivo. Infelizmente, não em todos os casos, mas nós precisamos sempre olhar para o que está dando certo e tentar ampliar, não vamos mudar isso da noite para o dia, porque é cultural, é algo que vem desde o patriarcado, acredito que só a educação vai poder mudar essa realidade. Salvo engano, a UNESCO tem um projeto de igualdade de gênero com previsão para 2030, eu não sei se isso será possível, mas se começarmos hoje educando as famílias, ensinando o respeito, ensinando a igualdade, com certeza nós vamos conseguir avançar muito como sociedade.

Valença Agora – Valença é considerada a capital do Baixo Sul, por ser o município com o maior número de serviços, empresas e instituições, e agora ganha mais o NEAM. Como a senhora traduz essa conquista para a cidade enquanto posicionamento regional?

Argimária Soares – Um ganho excepcional em termos de política pública de prevenção à violência e de repressão também. Esse Núcleo foi fruto de uma conquista suada e eu aproveito para agradecer o empenho particular da secretária de Promoção Social e primeira-dama Joana Baptista, que junto conosco e com Luciane Silva, coordenadora do CRAM e outras mulheres do município, foram até a Delegada-Geral, onde pudemos expor todos os instrumentos que Valença já disponibilizada no atendimento à mulher vítima de violência, mas no entanto existia essa lacuna de um atendimento especializado. A Delegada-Geral muito sensível à causa, uma mulher comprometida com o combate à violência de gênero, à violência doméstica familiar, e prontamente foi travada um parceria entre a Polícia Civil e o município de Valença, que possibilitou a realidade dessa estrutura que você está conhecendo hoje, um projeto lindo que visa não só o atendimento policial, mas também a implantação do GAM, Grupo de Apoio Multidisciplinar. Todos sabem da carência de efetivo da Polícia Civil, mas o município de Valença, em tratativa com a Delegada-Geral, assumiu a responsabilidade pelo imóvel, equipamentos e pessoal humano até que o Concurso aconteça e que se possa estar transformando, em breve tempo, espero eu, o NEAM em uma DEAM, Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher, que acho que essa será a nossa real grande conquista no final.

Valença Agora – Nos fale sobre a infraestrutura do NEAM. Como está a poucos dias de ser inaugurado?

Argimária Soares – Nós estamos na reta final aguardando só a data de inauguração. É importante que os organismos sociais venham conhecer o projeto, pois todos tem um papel relevante nessa conquista e nós queremos a parceria de todos. Tentamos fazer desse ambiente um espaço o mais humanizado possível, um ambiente acolhedor, aonde as mulheres possam se sentir acolhidas, um ambiente leve. Pessoas foram treinadas para esse atendimento diferenciado e é importante que a sociedade venha e que cada um possa dar a sua colaboração enquanto sociedade, enquanto organismos sociais. Estamos aqui abertos ao diálogo e a participação de todos os segmentos.

Valença Agora – Suas considerações finais.

Argimária Soares Eu quero agradecer a atenção de sempre do Jornal Valença Agora e a todos que nesse processo nos acompanharam, agradecer a parceria de vários empresários de Valença, Morro de São Paulo, além da parceria dos municípios que já citei e também dos vereadores de Valença através do seu presidente Fabrício Lemos. Cada um que participou desse projeto com certeza sabe de toda luta e toda dificuldade que foi para chegarmos até aqui. Me emocionei bastante quando o totem identificador foi colocado. Quero parabenizar o município de Valença pela atitude, pela parceria, especialmente a secretaria da Promoção Social, através de dona Joana Baptista, que comprou esse sonho junto conosco, à Luciane, e a tantas outras mulheres, o CRAM sempre engajado, nunca soltou a nossa mão, sempre em parceria com a Polícia Judiciária tentando dar o melhor atendimento possível a essas vítimas de violência e estamos aqui contando as horas para abrir as portas e poder atender de uma forma diferenciada todas as nossas mulheres.

 

Deixe uma resposta

Seu endereço de email não será publicado.