Moacir

Uma moça de 19 anos foi a óbito, devido a um acidente de moto, fato que comoveu a sociedade em virtude do modo como aconteceu. Talvez uma das tarefas mais difíceis que há é justificar os reais motivos de um acidente, cada um tem uma narrativa, no entanto nenhuma consegue elucidar objetivamente o ocorrido. Ainda mais que não são feitos estudos técnicos para explicar tais sinistros, a não ser aqueles envolvendo aeronaves, ainda assim, alguns deles ficam sem explicações.

A moça era de uma família numerosa e bastante influente na comunidade, assim sendo, no velório foi um deus nos acuda. Quando o féretro chegou ao salão, onde ficou exposto para que se velasse o corpo da moça, o ambiente entrou em pânico, até as paredes ficaram diferentes tamanho era o desespero da maioria que compareceu ao último adeus da moça. Segundo alguns poucos presentes, que não se contagiaram com essa histeria coletiva, nunca viram um velório com tanto clamor.

Gente caindo no chão, outros gritando desesperadamente, houve desmaios bem curtos, mas os poucos desmaiantes foram socorridos com copos de água e logo se restabeleceram. Gente xingando os deuses por terem levado tão cedo essa menina, enfim, nesses momentos, muitas pessoas perdem totalmente o eixo da razão, se deixam dominar por uma emoção dilacerada e não conseguem raciocinar numa linha com um mínimo de racionalidade, assim, falam coisas sem coisas nenhuma. Todo esse ambiente carregado de muita dor, as pessoas choravam copiosamente, até desesperadamente, muitos aos berros, enfim um ambiente em que ninguém se entendia, e não havia preocupação em se fazer entender, e sim externar muita dor, através de gritos, de choros, de gestos, de desmaios, um caos pelo passamento dessa moça.

Nem o desespero nem a alegria exagerados perduram por muito tempo, mesmo em situações como essa da moça. Após mais de uma hora e meia, as pessoas se acalmaram, alguns sentaram outros ficaram fora do espaço em que se encontrava o féretro e já dialogavam, houve uma serenização dos ânimos e a irracionalidade deu adeus. Nessas conversas de pé de caixão sai de tudo, desde a vida do defunto, outras mortes, piadas, e muitos causos, é um costume peculiar a qualquer velório.

Esse clima já estava reinando no velório da moça, quando se ouviu um grito de um moço, lá dentro, perto do caixão, um grito acompanhado de um choro espalhafatoso, logo em seguida outras pessoas acompanharam esse moço e em poucos segundos, o clima ficou pior do que aquele primeiro momento. Apenas duas moças se mantiveram tranquilas e sem entenderem o que acontecera. Uma disse para outra:

- Já sei o que foi.

- Então, desembucha logo. – Falou a curiosa:

- Passou o efeito do remédio.

As duas quiseram rir, mas se contiveram.

Logo em seguida, elas foram informadas que, minutos antes, um primo da defunta tirou a própria vida, o que foi informado, via celular, para o moço que não se conteve e abriu o berreiro.

 

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