Data foi criada em lembrança a trabalhadores estadunidenses mortos durante manifestação pela redução de jornada

Dia do Trabalhador, Dia do Trabalho ou Festa do Trabalho. As denominações variam de parte a parte do planeta e carregam pequenas diferenças semânticas, mas todas são uma homenagem à luta de trabalhadores por melhores condições de trabalho. No dia 1º de maio, comemora-se o Dia Internacional do Trabalho, enquanto nos Estados Unidos existe o Labor Day.

No Brasil, embora haja registros de manifestações operárias já no fim do século 19, a data virou um feriado nacional por um decreto do então presidente Artur Bernardes, em 1925.

Historiadores contemporâneos dizem que ela acabou sendo cooptada pela máquina estatal alguns anos mais tarde, na gestão Getúlio Vargas (1882-1954). Foi nessa época que, sem alterar o decreto original, o presidente mudou o protagonismo: deixou de ser o Dia do Trabalhador para se tornar o Dia do Trabalho.

Com Vargas, a data se transforma em espetáculo e perde a cara de reivindicação com anúncios feitos pelo governo. "No projeto getulista, a manifestação que era dos trabalhadores, revolucionários, para exigir direitos, se transformou em uma festa do trabalho, na qual se homenageia não exatamente o trabalhador mas sim a categoria básica do mundo capitalista e do estado autoritário de Vargas: o trabalho", disse à BBC News Brasil o historiador, sociólogo e antropólogo Claudio Bertolli Filho, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e autor de, entre outros livros, A República Velha e a Revolução de 30.

Ele tirou das celebrações a bandeira internacional comunista e do anarquismo e enfatizou a bandeira nacional. "O papel que Vargas exerceu dentro da sua perspectiva populista foi instaurar o Primeiro de Maio como uma forma de domínio dos trabalhadores, sutilmente, subvertendo a ordem. O trabalhador, antes livre, a partir de então passava a ser um trabalhador normatizado, legislado pelo Estado. Que, com isso, dominava o trabalho."

Apesar de ser marcada por shows, ela é originalmente sinônimo de protestos. 

Por que existe o Dia do trabalho? 

Gravura de 1886 reproduz o massacre de Chicago; fato histórico motivou a criação do 1º de maio – WikiCommons

Gravura de 1886 reproduz o massacre de Chicago; fato histórico motivou a criação do 1º de maio – WikiCommons

A data surgiu de uma situação de conflito entre trabalhadores e patrões. Ela foi escolhida como homenagem a uma greve geral que aconteceu em 1º de maio de 1886, em Chicago, centro industrial dos Estados Unidos. Neste dia, os trabalhadores revoltados com as condições desumanas de trabalho saíram às ruas para fazer suas reivindicações.

Uma das reivindicações era a redução da jornada de trabalho de 13 para 8 horas diárias. O ato paralisou os Estados Unidos e ficou marcado por passeatas, piquetes e violência. Os confrontos entre policiais e operários resultaram na morte de centenas de manifestantes e policiais. Além disso, dezenas de pessoas ficaram feridas no conflito conhecido como Revolta de Haymarket.

Para lembrar e homenagear este dia de reivindicações, mortes e lutas por melhores condições de vida para o trabalhador, um congresso socialista, realizado em Paris em 1889, instituiu o dia 1º de maio como o Dia Mundial do Trabalho.

Sinônimo de festa no Brasil

O 1º de maio antigamente era reservado para protestos, mas o Dia do Trabalho foi ganhando outra característica no Brasil. Virou celebração, com festas populares e desfiles simbólicos. Tudo em decorrência da forte propaganda trabalhista do período Vargas. O presidente passou a usar o 1º de maio para anunciar leis e iniciativas que atendiam as reivindicações dos trabalhadores. A Justiça do Trabalho (1941) e a CLT (1943), por exemplo, foram instituídas na data.

Unificando e atualizando toda a legislação trabalhista então existente no Brasil, o decreto de 922 artigos passou a abranger direitos de boa parte dos trabalhadores, com determinações sobre duração da jornada, férias, segurança do trabalho, previdência social e férias —além da fixação do salário mínimo.

Os primeiros registros de celebração aos trabalhadores no Brasil, no entanto, não ocorreram em um Primeiro de Maio, mas sim em um 14 de julho. A explicação está na memória da Revolução Francesa, que mantinha um grande feriado da confraternização universal pelo aniversário da tomada da Bastilha. Isso provavelmente veio na bagagem dos imigrantes europeus que chegaram ao Brasil no processo de substituição da mão-de-obra escrava, a partir da Lei Áurea (1888) e até as primeiras décadas do século 20, e trouxeram ideias anarquistas, comunistas e socialistas.

O maior exemplo foi a Greve Geral de 1917, ocorrida em julho daquele ano na capital paulista e considerada a primeira paralisação geral da história do Brasil, com adesão estimada de 70 mil pessoas.

Fonte: UOL Educação

 

 

Deixe uma resposta

Seu endereço de email não será publicado.