Secretário vai investir em praias, turismo religioso e ecológico

São poucos os turistas que conhecem os pontos históricos de Valença. Uma pena.  Igrejas do século XVIII e início do XIX passam despercebidas pelas centenas de milhares de turistas que visitam a região todos os anos. Chegam ao cais, carregados de malas e mochilas, muita água mineral, e procuram a primeira lancha para as ilhas paradisíacas do arquipélago de Tinharé, sobretudo com destino a Morro de São Paulo, Gamboa e Boipeba. Não prestam a devida atenção às placas indicatórias instaladas em alguns pontos da cidade, informando pelo menos dois locais que deveriam ser parada obrigatória aos visitantes: a Matriz do Coração de Jesus, fundada em 1801, e a Igreja Nossa Senhora do Amparo, originalmente construída em 1750. Ambas merecem a mesma atenção dada às belas e antigas igrejas de Salvador, ou mesmo Ouro Preto, em Minas Gerais. E podem ser visitadas num mesmo dia. A distância entre elas não ultrapassa um quilômetro.

O barroco é predominante, com uma ligeira mistura neoclássica, segundo historiadores como Janete Pereira de Sousa Vomeri, que foi a fundo nas pesquisas sobre a Matriz, e Francisco Neto, diretor da Faculdade de Educação Social da Bahia (Faesb – campus Valença), que publicou um livro sobre a Igreja de Nossa Senhora do Amparo.

Mesmo quando estiverem fechadas ao público, o que é bem mais comum devido à falta de segurança, no caso da Igreja do Amparo, e às infiltrações no teto, no caso da Matriz, vale a pena conferir os espaços externos dos dois ambientes, mostrando a clara influência portuguesa trazida da Europa pelos padres que vinham congregar no Brasil.

A parte exterior arquitetônica da Matriz do Coração de Jesus é exuberante, mostrando uma única torre, mas bem ornamentada, e sua enorme fachada, o que demonstra o tamanho do seu interior. Dizem, conforme os pesquisadores, que a torre única servia para pagar menos impostos ao Rei, deixando assim uma margem de dúvida quanto ao dízimo arrecadado pelos fiéis na época.

Já na Igreja do Amparo, se estiver fechada – abre apenas aos domingos, a partir de 18h - vale a pena aproveitar toda a vista que se tem do local. Dali, enxerga-se os contornos do Rio Una, que corta Valença, e as distantes praias do Morro, Gamboa e Galeão. Em dias de boa visibilidade, consegue-se avistar Cairu, cidade vizinha, à qual pertencem os distritos turísticos mais visitados do Baixo Sul baiano. É do Amparo que badalam os sinos de hora em hora, sob a conservação exclusiva do mecânico Petrônio Daniel, único a ter as chaves da torre esquerda, onde está o relógio importado dos Estados Unidos há mais de meio século. Este trabalho, que mexe com centenas de engrenagens, é feito quase mensalmente, para acertar os ponteiros e tocar os sinos na hora cheia. Quem acorda cedo em Valença, pode ouvir as badaladas das cinco ou seis horas da manhã. A partir deste horário, a poluição sonora impede qualquer propagação de seu eco. Os únicos a ouvirem as badaladas o dia inteiro são os trabalhadores da Companhia Valença Industrial (CVI), instalada logo abaixo no morro do Amparo.

Cairu pode ser a sede do município que domina o arquipélago. Mas o turista, quando precisa ir ao mercado, ao banco, ao médico, ou realizar alguma consulta jurídica, tem que se dirigir a Valença, bem mais perto e já no continente. De lancha rápida ele não gasta mais de 25 minutos. Por isto mesmo, a ideia é aproveitar estas vindas ao continente e mostrar à população de fora as raridades históricas da região. Ambas as Igrejas são tombadas pelo município e pelo Estado da Bahia.

O novo secretário de Turismo de Valença, Fred Rehem,  promete intensificar a propaganda de pontos turísticos valencianos, que podem ser visitados sem muita perda de tempo. “Valença tem pontos turísticos que merecem ser visitados mais amplamente, como as duas igrejas e a primeira fábrica de tecidos do Brasil, cujas ruínas estão situadas próximas à nova fábrica”, disse. Segundo ele, a prefeitura e sua pasta trabalham em três frentes amplas: reforço no turismo de praia, no turismo cultural e religioso e no turismo ecológico. “Vamos traçar roteiros programados para os turistas nestas áreas, de forma a facilitar a visitas e propagar as novas atrações. “Queremos deixar claro que investimentos só não bastam. Precisamos da cooperação da população valenciana”, alegou, frisando a contratação de novos seguranças para o Amparo e a restauração da Matriz. O secretário tem um encontro ainda esta semana com o vice-governador João Leão para tratar desses assuntos. Os projetos de restauração estão nas mesas do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac).

 Amparo dos operários

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Igreja de Nossa Senhora do Amparo (Foto: Reprodução/Internet)

O primeiro local a ser visitado é o alto do Amparo, onde fica a igreja de mesmo nome, cuja fundação se deu em 1750. A construção inicial foi feita sob as ordens de padres italianos, que apaziguaram as tribos, aproveitando a presença de 450 indígenas que moravam no local. Dá para fazer o percurso à pé, do cais à igreja, em menos de 30 minutos. Em 1860, D. Pedro II gastou mais ou menos o mesmo tempo subindo a cavalo, em sua visita oficial a Valença. Na carta em que deixou registrada, encantou-se com a simplicidade da igreja, com a vista belíssima, mas reclamou da baixa altura do teto.

A visão que se tem lá de cima é surpreendente. À noite, vê-se o farol de Morro de São Paulo piscando, assim como as luzes da Gamboa e do Galeão, todos distritos de Cairu. No pátio externo, há muito espaço para crianças brincarem e até um coreto para animar as festas. Este espaço externo gigante torna-se minúsculo na época em que se celebra a data de Nossa Senhora do Amparo, em novembro, padroeira de Valença segundo alguns, ou padroeira apenas dos operários que trabalhavam na CVI, segundo outros. O certo é que a festa dura quase 10 dias, com procissões pela cidade e concentração no pátio externo. Excepcionalmente no ano de 2020, a festa foi cancelada devido à onda do coronavírus.

No interior da igreja, uma nave com capela-mor, cinco altares neoclássicos em talha branca e dourada, sacristias e corredores laterais. Para adoração, imagens de Nossa Senhora do Amparo, Santa Efigênia e São Jorge. Oito quadros à óleo, pintados ainda no século XVIII, de quase dois metros quadrados cada, revela o nascimento e o batismo de Jesus Cristo, assim como a morte do mal pecador e a morte do temente à Deus.

A Igreja teve sua inauguração oficial apenas em 1882, quase 130 anos após ser construída, embora de taipa e madeira. Os índios que a ergueram foram sendo expulsos aos poucos pela nova freguesia de portugueses que se instalava no local.

Com a pandemia, as missas são realizadas apenas aos domingos, às 19h30, respeitando-se o distanciamento e com o uso obrigatório de máscaras. O padre Almir Urbano, que deixa a paróquia em fevereiro, após cinco anos de trabalhos em Valanca – ele já esteve como pároco aqui mesmo, entre 2005 e 2010, voltando em 2015 - agora se prepara para um trabalho pastoral com jovens em São Paulo.

Outro motivo para o fechamento da igreja nos dias de semana é a falta de segurança. O lugar ainda é ermo, no alto de uma montanha, e precisa ter vigilantes 24 horas por dia, segundo o padre, para que a igreja possa ficar aberta o dia inteiro.

Matriz fechada

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Igreja Matriz do Sagrado Coração de Jesus (Foto: Reprodução/Internet)

Há mais de um ano a Matriz de Coração de Jesus está fechada para missas e visitas.  O prédio foi interditado pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac) pouco antes do início da pandemia. O problema agora está no telhado, com vazamentos das águas de chuva em seu interior, o que provoca mofos nas paredes, além de alagamentos no piso. Todos os objetos de valor foram retirados do seu interior, guardando as principais imagens em locais seguros. “Assim que os reparos terminarem, as peças voltam a ocupar seus antigos lugares e a e igreja vai poder receber os fiéis e os turistas novamente”, afirma o conselheiro paroquial Antônio Machado, que acompanha toda a burocracia para a liberação das verbas para a reforma.

Aberta excepcionalmente aos domingos, a partir de 6h30, mesmo vazia, sem bancos e sem imagens, o Sagrado Coração de Jesus mostra sua grandeza. Além do altar-mor, outros seis oratórios estão espalhados pela igreja, assim como mais duas pequenas capelas. Possui um coro para 20 músicos e pode receber mais de 400 pessoas sentadas. A Matriz também foi visitada por D. Pedro II, desta vez sendo elogiado o pé direito da nave.

Um costume antigo ainda é preservado no piso da Matriz, como acontece em algumas igrejas europeias. Nos cantos, em forma de quadrado, vários túmulos foram confeccionados para receberem ossadas de pessoas importantes da época, como barões do cacau e políticos importantes. Não há de se temer. O piso é de um mármore pesado e grosso. Só as inscrições ainda aparecem, algumas já querendo se apagar, dizendo o nome e a família de quem foi sepultado ali.

Atualmente, as missas são celebradas no anexo da Matriz, na Escola Paroquial, com pouco mais de 15 bancos, para 10 pessoas cada. O restante foi deslocado para outras comunidades, como as capelas de Sarapuí e Cajaíba.

Foto em destaque: Reprodução/Internet

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