moacir-saraiva

Fernando Pessoa, poeta português de uma forma simples e objetiva, como é peculiar aos vates, mostra a importância da chuva, pois há muitos que estando na cidade falam mal dela, entretanto, não concordam aqueles que vivem nos campos; o poeta fala de suas entranhas o seguinte, acho que inspirado no “politicamente correto” contemplando a todos: “um dia de chuva é tão belo como um dia de sol. Ambos existem cada um como é.” É bom que isso cale a boca daqueles que falam mal de tudo e de todos, chegar ao ponto de amaldiçoar a chuva, só por estar na cidade, é uma infâmia pública.

A terra não é apenas molhada ao ser tocada pela chuva, a terra sente cada pingo, o chão vai absorvendo aos poucos cada gota e se for fina, ela roça a terra suavemente, deixando-a molhada, bem molhada. Superando aos pingos caudalosos, pois estes caem com violência e invadem as entranhas terrestres com muita rapidez.

Em algumas circunstâncias, a chuva tem o poder de dispersar multidões, isso devido ao povo ter um medo danado de ser atingido por pingos – que bom seria se houvesse um curso para ensinar a seguinte prática: Como se desviar dos pingos de uma chuva. Portanto, em alguns casos, é pingar não fica um pé de gente, já em outros, o medo desaparece e ninguém arreda o pé, por exemplo, quando há um show do gosto popular, pode chover torrencialmente, não tem gripe, não tem tosse que afaste um ser vivo, o sujeito se protege como pode a fim de balançar o corpo. Os cortejos fúnebres, da mesma forma, aglomeram, faça sol ou chuva, o morto, de uma forma ou de outra, não permite que ninguém dali se afaste.

Em muitas situações há sinais visíveis da chegada da chuva, antes de ela chegar faz um estardalhaço seja no visual, como também sonoro, estas manifestações da natureza fazem com que as pessoas busquem abrigo para não serem atingidos pela água. No entanto, há outras que chegam abruptamente sem nenhum tipo de aviso, quando se menos espera, são os pingos caindo e se esparramando em tua cabeça, nos teus ombros, no chão e mal dá tempo para se procurar um abrigo.

Muita gente caminhando, a maioria freneticamente, cada cabeça com um objetivo, mas todos andando rápido, uns se desviando dos outros,  tamanho era o número de transeuntes no centro comercial de Valença. Além da multidão caminhando, havia, ainda, alguns vendedores ambulantes com suas mercadorias. Por volta das onze horas, um sol próprio deste horário. De repente um barulho estranho e um aguaceiro vindo do céu. Nunca vi tanta confusão, todos correndo procurando onde se proteger, as lojas, nem em época natalina, receberam tanta gente, não para adquirir produtos, mas para fugir da chuva, todos com medo de serem banhados por águas pluviais.

Na correria, alguns ambulantes foram levados de roldão e tiveram suas mercadorias pisoteadas, alguns idosos também foram desrespeitados na correria e ficaram pelo chão, enfim, parecia que estavam soltando uma bomba avassaladora. Em fração de segundos, no Calçadão só restavam mercadorias pisoteadas, alguns pedaços de carros dos ambulantes e um ou outro idoso se arrastando a busca de uma proteção. Nunca vi algo parecido.

O medo é capaz de operar milagres, quem já passou por situações similares pode relatar fatos que não sabe como arranjou forças para realizar determinadas ações fugindo daquilo que provocou o medo.

Olhando friamente, é risível ver um monte gente fugindo de pingos de chuva e de uma forma atabalhoada.

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