“Fica com Deus, meu querido Magno”, despede-se o jornalista Levi Vasconcelos

Maranhense Magno Jouber, radicado em Valença-BA há mais de trinta anos. Na cidade construiu sua carreira na área da comunicação. (Foto: Reprodução/Internet)

Leia a seguir, com exclusividade, a mensagem de Levi Vasconcelos ao jornalista Magno Jouber, que morreu na última terça-feira (25), em Valença

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Lá num domingo do mês de abril de 2021, na plenitude da pandemia, eu parei por voltas das 3h da tarde na ponte São Félix, olhava para um lado, olhava para o outro, uma paisagem única, não movia nada, tudo paradinho, não tinha uma pessoa se bulindo em qualquer ponto, nesse dia caiu a ficha. Cidades são palcos, nós os atores em cena, que fazemos os espetáculos, bons ou maus, conforme o nosso gosto, conforme o gosto de cada um.

Eu vim pra cá [Valença] tangido pela pandemia. Chego aqui e encontro o mesmo cenário de sempre da nossa Valença, se bem que um cenário extremamente mal tratado, extremamente derrubado. Indo ao cemitério no enterro de algumas pessoas queridas, inclusive que a Covid levou, percebi lá muitos rostos do meu tempo, que também já mudaram de lado, pessoas queridas, amadas, atores e atrizes do nosso tempo que chegaram aqui e apresentaram uma coisa bonita, como minha amiga Odiléia, como a  professora Celidalva Palma, minha querida Celidalva - que foi embora no Natal passado -, minha querida Cremilda Lopes, o professor Mustafá Rosemberg, e uma série de tantos outros que, no jogo de erros e acertos que é a própria vida, partiram com a consciência tranquila de que mais acertaram, pelo menos do ponto de vista da satisfação dos seus conterrâneos.

E eis que agora, já com a pandemia vencida, vem o destino e nos surrupia de uma forma abrupta o nosso companheiro Magno Jouber. Magno era um pouco mais do que um simples amigo, Magno era um amigo querido, prezado e amado. Nós dois jornalistas, a gente sentava e batia horas e horas de papo sobre as conveniências filosóficas, as conveniências técnicas e éticas do nosso ofício. Como nós partilhávamos dos mesmos valores, ficou fácil o entendimento, de forma que Magno Jouber tornou-se um amigo de todos os finais de semana estarmos juntos sentados batendo um papo.

Ainda no sábado passado também estivemos com ele. Na ocasião ele se queixou que na véspera, na sexta-feira, tomou umas cervejas e na segunda-feira a pressão subiu para 16. Ninguém achou aquilo nada de mais, acho que nem ele também, era ali que morava o perigo. De repente, o nosso Magno sofre um infarto fulminante e vai para o outro lado. Magno está aqui em Valença há mais de trinta anos, ele é maranhense de Cururupu e costumava brincar com a terra dele, dizia “Cururupu que rima com Gandu, Camamu, Cairu e Maraú, mas qualquer outro tipo de rima não é mera coincidência, é maledicência mesmo, pura e simples.”

O nosso Magno está do outro lado partilhando na nossa terra dos atores que chegaram aqui e fizeram belos espetáculos no nosso tempo, e parte com a consciência tranquila que deixou exemplo de decência, dignidade, que é aquilo que todos nós queremos sempre.

Não tenha dúvida que, - eu por ter convicções espíritas, não acredito em morte - por mais que a gente tenha o alento de saber que a pessoa está no outro plano, por mais que a gente saiba que a vida continua, a retirada assim abrupta de alguém que estava partilhando nosso dia a dia é uma coisa extremamente dolorosa, fica parecendo que nos tiraram um pedaço. Eu estou me sentido assim nesses dias, sem um pedaço de mim.

Fica com Deus, meu querido Magno, você merece.

 

 

 

 

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