Moacir

Quando o sol está se despedindo e passando o bastão para a noite, sempre faço um trajeto onde percorro alguns bairros da cidade e é a hora de um fluxo grande de pessoas voltando para suas casas, seja de carro, moto, bicicleta, a maioria caminhando. Muitos sozinhos ou sozinhas e outros em duplas, mas não mais do que isso.

O rosto de alguns se mostra com muito cansaço, uns apenas levemente abatidos, já outros com sorrisos estampados e conversando, agora, todos na certeza da volta para casa, e como é bom ter um lugar para voltar, como é bom ter um lugar que se pode chamar de seu. Todos com o olhar fixo nas ruas por onde transitam, bem atentos, pois elas, além de serem apertadas, não têm passeios para os transeuntes, e quando tem estão ocupadas ou por motos, por carrinhos de vendedores ou veículos de quatro rodas, assim, nesse retorno, as pessoas têm de conviver com o perigo de serem importunadas por um bicho movido a gasolina ou etanol ou, ainda, movido apenas por braços humanos.

Uns andando apressados, outros mais cadenciados, mas todos querendo desfrutar do aconchego do seu lar. Um detalhe importante constatado é que os homens, em sua quase totalidade, voltam sem nada nas mãos, raros, bem raros, às vezes, se vê um ou outro carregando uma sacolinha com pães. Parece-me que eles não têm noção do que falta em casa para encher suas barrigas, a da mulher e a dos filhos.

Essa preocupação aparece, com bastante intensidade, nas sacolas levadas pelas mulheres, quase todas, que aparentam serem mães, levam mantimentos para casa. Algumas delas nas garupas das motos, e parece estarem bem desconfortáveis, pois ter de se equilibrar na moto e ainda carregar sacolas é uma atividade que coloca em risco a vida delas, mas a responsabilidade de ver sua prole alimentada é muito mais forte do que esse perigo que é bem passageiro.

Outras, também colocando em risco suas vidas, agora, não tentando se equilibrar na garupa de uma moto, mas buscando espaços para caminhar nas ruas carregando pesadas sacolas com mantimentos, esse peso é observado pela rigidez de seus braços e o rosto mostrando sinais de um esforço, quase além do suportável. Todo esse sacrifício para trazer alimentos para os filhos.

O fim de expediente nos seus trabalhos e a volta para casa com essas sacolas repletas de alimentos mostram que essas mulheres terão o início de um novo expediente, agora, dentro de casa, preparar comida e outras atividades domésticas a fim de nutrir a barriga dos filhos e tornar sua casa melhor.

Nessas sacolas cheias se veem mulheres guerreiras que se mostram heroínas na grande labuta do dia a dia e sem alarde nenhum. E tem essa carga dobrada pela omissão e falta de companheirismo dos homens carregadores de sacolas com quase nada ou sem sacolas.

 

 

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