Cooperadas da Coomafes comemoraram aprovação de Mestrado sobre a cooperativa

Cooperadas da Coomafes comemoraram aprovação de Mestrado sobre a cooperativa. Foto: Jornal Valença Agora.

Durante dois anos, a Cooperativa Feminina da Agricultura Familiar e Economia Solidária de Valença – Coomafes, foi objeto de estudo da mestranda Aline Oliveira Andrade, que escolheu como tema do seu trabalho de conclusão de curso da Pós-Graduação de Mestrado Profissional em Educação do Campo, cursado da Universidade Federal do Recôncavo Baiano – UFRB, campus Amargosa, “O semear de uma construção coletiva: A trajetória de formação da Cooperativa da Agricultura Familiar e Economia Solidária de Valença – Coomafes”.

 

A defesa do relatório, fruto do trabalho realizado por Aline Andrade, aconteceu no dia 18 de abril, no auditório da Universidade Estadual da Bahia, UNEB campus XV – Valença, trazendo para o município a banca examinadora, composta pelas professoras Ana Lícia de Santana Stopilha (UNEB Valença), Tatiana Veloso (UFRB Feira de Santana) e Rosineide Mubarack (UFRB Cruz das Almas), pró-reitora de Graduação da UFRB, que presidiu a banca. A integração entre UNEB e UFRB com a vinda da banca examinadora de Mestrado para Valença é inédito e foi celebrado pelas professoras representantes das universidades.

Aline Andrade realizou defesa de sua pesquisa de Mestrado Profissional em Educação do Campo explanando o processo de construção da Coomafes

Aline Andrade realizou defesa de sua pesquisa de Mestrado Profissional em Educação do Campo explanando o processo de construção da Coomafes. Foto : Jornal valença Agora.

Na plenária do auditório, além de familiares e amigos de Aline, a presença da presidente da Coomafes, Maria Joselita conhecida como Branca, e muitas cooperadas para assistir a apresentação do relatório produzido por Aline sobre a cooperativa.

A mestranda apresentou o relatório sistematizando dados sobre todo o processo de criação e de história da Coomafes desde antes da sua fundação formal em 2017 e informações referentes às mulheres e seus modos de organização, produção e comercialização através da cooperativa, ressaltando aspectos sociais e econômicos. Além do acompanhamento de diversas ações da Coomafes ao longo dos anos, Aline também aplicou questionários nos 15 grupos produtivos que compõem a cooperativa e em 80 mulheres cooperadas.

O trabalho também destaca as ações capitaneadas pela Coomafes como a Feira da Agricultura Familiar e de Economia Solidária, o Espaço Cesol e a Cantina Solidária, trazendo reflexões sobre as condições de comercialização versus perspectivas e sugestões para o desenvolvimento da cooperativa como o fortalecimento de parcerias e acesso às políticas públicas.

Como resultado acadêmico de seu trabalho, Aline relatou: “apresento esse relatório com a construção da história da cooperativa, o estreitamento entre a comunidade e a universidade através do projeto de mestrado em microbiologia agrária que tem duas pesquisas sendo desenvolvidas aqui com as mulheres, apresentação em espaço acadêmicos sobre mulheres rurais da Coomafes a fim de provocar novas reflexões e contribuir para a discussão acadêmica sobre a educação do campo, cooperativismo e agricultura familiar e a utilização do relatório para um aprimoramento, para criação de políticas públicas e aproximação do conhecimento científico com saberes populares”.

Banca examinadora aprovou pesquisa de Mestrado de Aline Andrade sobre a Coomafes

Banca examinadora aprovou pesquisa de Mestrado de Aline Andrade sobre a Coomafes. Foto; Jornal Valença Agora.

As professoras fizeram suas considerações sobre o trabalho apresentado e aprovaram a mestranda Aline Andrade.

“Este trabalho revela-se de grande importância, especialmente nesse momento de turbulência histórica em que vivemos no Brasil, em um cenário em que direitos conquistados com grande sacrifício são cerceados a cada minuto e o próprio governo é o maior violador dos direitos humanos. Assim, posso dizer que a pesquisa representa e materializa, sem dúvida, uma contribuição a trajetória e visibilidade dos grupos de agricultoras valencianas pertencentes à Coomafes”, considerou a professora Ana Lícia Stopilha.

Professora Ana Lícia Stopilha, da UNEB, compôs a banca examinadora

Professora Ana Lícia Stopilha, da UNEB, compôs a banca examinadora. Foto: Jornal Valença Agora.

Em entrevista ao Valença Agora, Ana Lícia complementou: “Esse dia é um marco para a UNEB por vários motivos, porque estamos recebendo uma banca de mestrado e porque temos hoje um auditório repleto com pessoas da comunidade. A UNEB é uma universidade que nasce com a missão de fazer esse vínculo, essa ponte com a comunidade, e hoje a comunidade ocupa a UNEB na condição de assistir e de ser coautora de um trabalho que foi o produto de mestrado de Aline Andrade, essas agricultoras de Valença também são coautoras desse trabalho e conforme bem disse Branca, a universidade é a casa delas, nós pedimos e sentimos essa necessidade da comunidade ocupar esses espaços e muitas vezes o diálogo da universidade não é aquele que a comunidade entende e hoje temos esse retorno. Quando a lideranças dessas mulheres diz pra gente que hoje a universidade é a casa delas, essa plena realização social é o papel da universidade se cumprindo com efeito. hoje é um dia especial para o Campus XV” analisou.

Professora Rosineida Mubarack, membro permanente do Mestrado Profissional de Educação do Campo da UFRB

Professora Rosineida Mubarack, membro permanente do Mestrado Profissional de Educação do Campo da UFRB. Foto: Jornal Valença Agora.

A professora Rosineide Pereira Mubarack Garcia, membro do Programa de mestrado do centro de formação de professores em Educação do Campo avaliou: “Um tipo de trabalho como esse reflete a missão que a universidade tem a construção do conhecimento e do compromisso social, e um objeto dessa natureza, envolvendo 15 grupos produtivos, a gente reflete que nessa construção do conhecimento a gente traz também o aprimoramento de técnicas, aperfeiçoamento de forma de construir conhecimento em parceria, sociedade com a universidade, a universidade com a sociedade, isso reflete essa parceria e a missão da universidade de construir conhecimento para o povo, com o povo, então se a sociedade e esses grupos cooperativos estão dentro da universidade é a nossa missão institucional; é desenvolver, construir, mas também trazer essa identidade cidadã de quem somos, o povo do território, baiano, nordestino, o povo do Baixo Sul da Bahia”.

Professora Tatiana Veloso, da UFRB, membro da banca examinadora

Professora Tatiana Veloso, da UFRB, membro da banca examinadora.Foto: Jornal Valença Agora.

A professora Tatiana Veloso comentou sobre o mestrado e ao trabalho desenvolvido pela estudante que conquistou o título de Mestre em Educação do campo. “Esse mestrado tem um compromisso com os povos do campo e o trabalho que Aline apresenta é um trabalho importante para visibilizar e fortalecer o trabalho da Coomafes composto por 15 grupos de mulheres rurais da agricultura familiar que buscaram de forma coletiva estruturar um empreendimento da economia solidária que pudesse viabilizar o acesso ao mercado, mas sem perder a coletividade e uma ação participativa e democrática, então é um trabalho que nós da universidade aprendemos porque é uma ação das mulheres rurais, são mulheres da agricultura familiar que  constroem práticas, mas também na relação com a Academia a gente aprende saberes e conhecimentos importantes para estruturar o papel e a missão da universidade, principalmente em construir esses conhecimentos e saberes implicados na transformação das condições sociais e econômicas de um segmento muito importante que é a agricultura familiar, em especial as mulheres rurais”, salientou.

Leia também: COOMAFES expõe resultado de capacitação do Qualifica Bahia

Tatiana também destacou e entrevista ao jornal, a parceria entre a UFRB e a UNEB e a importância da formação e qualificação dos povos do campo para transformarem as suas realidades. “Somos grandes parceiros nas ações de ensino, pesquisa e extensão. A UFRB e a UNEB tem um programa de mobilidade acadêmica que permite que estudantes matriculados na UNEB façam componentes curriculares na UFRB e vice e versa e isso é uma possibilidade no processo de sua formação. O que a gente espera é que de fato a sociedade compreenda a importância dos povos do campo, da agricultura familiar, que apesar de todas as dificuldades e as exclusões históricas de acesso a terra, à assistência técnica e extensão rural, de formações, de politicas de fato que sejam estruturantes, é ainda o segmento que alimenta a nossa nação, então o que a gente espera é que esses profissionais que são oriundos do campo e que tiveram acesso a uma formação de nível superior e depois pós-graduação possam construir conhecimentos e trabalhos implicados com esse povo, com esse segmento, mas principalmente com as transformações necessárias”, frisou.

Leia também: VALENÇA: Mulheres Agricultoras que transformam oportunidade em dias melhores

Branca foi convidada para pela banca para se pronunciar sobre a experiência de participar do estudo. “Eu nunca participei da defesa de um mestrado, então é um momento muito especial e a gente não pode deixar de expressar a alegria e a gratidão de estar vivendo esse momento, estou extremamente feliz e aprendi muita coisa, é muito gratificante”, destacou a presidente da Coomafes, agradecendo a todos os envolvidos na realização do trabalho desenvolvido por Aline.

Branca, presidente da Coomafes foi convidada à mesa para se pronunciar

Branca, presidente da Coomafes foi convidada à mesa para se pronunciar. Foto:jornal Valença Agora.

“O relatório que Aline apresentou é belíssimo, mas escrever tudo isso, da nossa história, não é fácil, mas eu sei que ela fez tudo isso com a contribuição e a ajuda de todas nós. Quero que você [Aline] sinta todo o nosso carinho e saiba que volto muito feliz por saber que a gente não pode deixar fechar esse ‘livro’. Quero agradecer a todos os parceiros que estão aqui, ao jornal Valença Agora porque faz parte da nossa sociedade e notícia de maneira correta e responsável e tem dado um apoio interessante à cooperativa de trazer para o público de todo o Baixo Sul aquilo que a cooperativa tem feito no nosso território”, continuou branca.

 

Branca também ressaltou a essência do cooperativismo: “Acredito muito que quando a gente se une no trabalho coletivo, a gente faz as coisas acontecerem. Nosso trabalho é de interesse social, coletivo, não existe uma estrela e sim uma constelação onde a gente brilha junto e, às vezes, o nosso brilho incomoda algumas pessoas eu não estão acostumadas com o brilho coletivo, mas que gostam de ofuscar os outros e brilhar sozinho, mas no nosso grupo não existe lugar para o individual. Não temos problema que esse número [de cooperadas] aumente ou diminua, queremos um número sólido, mulheres conscientes, que saibam onde é o seu lugar e que ali ela determine e crie as condições de vida, tanto na questão material, como pessoal, no ganho social que a gente tem dado para as mulheres”.

 

“Hoje é um dia muito gratificante, um marco na história da minha existência enquanto associativista e cooperativista. Saber que participamos dessa construção, que esse material tem a história de cada mulher dessa e que não foi contada por mim, mas por elas mesmas para a pesquisadora que as visitou em suas propriedades, que ouviu delas os seus anseios, as suas queixas, os desafios que elas vivem na família, no trabalho, para contextualizar isso tudo e trazer como resultado é de um valor imensurável. Saber que isso vai ficar num banco de universidade é marcante, hoje é como se fosse um divisor de águas, vai ficar registrado na minha mente como pessoa, cooperativista que sou por natureza”, afirmou.

Mestranda Aline com os pais e a irma

Mestranda Aline com os pais e a irma. Foto: Jornal valença Agora

Os pais de Aline, Sr. Manoel e Sra. Adalice se orgulharam da conquista da filha. “É um prazer estar aqui hoje pra formar minha filha e ver todo mundo unido aqui”, comentou seu Manoel. Dona Adalice expressou sua felicidade: “Me sinto muito feliz e orgulhosa por minha filha estar concluindo esse mestrado e só tenho que agradecer a Deus por nossa família e por ter ela sendo minha filha”, alegrou-se.

Presidentes de Associações marcaram presença, entre elas Vilma Silva da Aprobatc

Presidentes de Associações marcaram presença, entre elas Vilma Silva da Aprobatc. Foto:Jornal Valença Agora

Vilma Silva, presidente da Associação dos Pequenos Produtores Rurais do Baixão, Tremendal e Cariri (Aprobatc), que participa da Coomafes através de seu grupo produtivo, falou sobre o trabalho de Aline. “Isso significa muito pra todas nós porque somos representadas através dessa pesquisa que Aline faz, então a gente se sente muito feliz e a gente cresce junto. Essa pesquisa tem muito valor pra gente da associação e nos traz uma força e vontade de continuar fazendo o que a gente sempre faz”, ressaltou.

Presidentes de associações ligadas à Coomafes prestigiaram defesa de Mestrado de Aline

Presidentes de associações ligadas à Coomafes prestigiaram defesa de Mestrado de Aline. Foto: Jornal valença Agora.

“Esse trabalho é um documento que vai deixar registrado a ação dessa cooperativa aqui na região, que realmente trouxe a melhora da vida das pessoas”, destacou Aiko, presidente da Associação dos Pequenos Agricultores da Derradeira.

Aline Andrade agradeceu o envolvimento de todos para alcançar a sua aprovação e falou sobre o trabalho em entrevista ao Valença Agora. “A minha fala é de agradecimento a todos os sujeitos, a todas as mulheres agricultoras que fizeram parte da pesquisa. Esse relatório também dá suporte para a construção e aprimoramento de políticas públicas voltadas para o cooperativismo, para a agricultura familiar, em especial no território do Baixo Sul. Também é um legado porque é a primeira cooperativa feminina da agricultura familiar que tem como base a economia solidária, e que agora tem um registro de todo o seu processo de construção, um registro não só acadêmico, mas um registro feito com elas e para elas, esse é o diferencial da pesquisa. Acredito que esse momento seja um marco pra cooperativa porque a conclusão não significa o fim e sim um passo para novos passos, novos produtos e novas conquistas. Me orgulho muito de ter pesquisado sobre economia solidária e agricultura familiar no contexto de mulheres rurais porque tenho essa origem e porque acredito nesses sujeitos e nesses espaços de militância e espero que essa pesquisa possa colaborar tanto para as cooperadas, quanto para outros agentes territoriais e nacionais porque ficando disponível no banco de dados da universidade federal, isso vem a ser um recurso que pode colaborar com outros grupos produtivos sobre como construir metodologias para superar os desafios que são semelhantes aos sujeitos da pesquisa. Meu agradecimento muito especial a Coomafes e seus 15 grupos que a compõe que me acolheram e me deram assistência a todo o momento para construção deste trabalho”, concluiu Aline.

 

 Jornal Valença Agora.

 

 

 

Deixe uma resposta

Seu endereço de email não será publicado.