Aterros e construções irregulares tem ocasionado alagamentos nas via de tráfego urbano no distrito do Guaibim

Vídeo gravado por morado mostra a Avenida Taquary inundada

Um vídeo que circulou nas redes sociais em abril deste ano, mostra trecho asfaltado da Avenida Taquary completamente alagado; o fato traz à tona a problemática da falta de planejamento urbano em Valença, especialmente no Guaibim, e, consequentemente da ocupação irregular do solo, o que de acordo com os entrevistados pelo JVA, tem contribuído primordialmente com os alagamentos. Nesta reportagem, convidamos nossos leitores a entender melhor os motivos destes alagamentos no Guaibim e o que precisa ser feito para resolver o problema.

A presidente do Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente (CODEMA), Cláudia Silva, tem participado ativamente da elaboração de projetos relacionados ao planejamento urbano, e fala com propriedade sobre os principais problemas que tem impactado o Guaibim com os alagamentos.

Cláudia Silva, presidente do Conselho Municipal de Defesa Municipal do Meio Ambiente

Cláudia Silva, presidente do Conselho Municipal de Defesa Municipal do Meio Ambiente.

“Um dos problemas sérios dos alagamentos é a falta de planejamento urbano, falta de fiscalização, construções irregulares, obstrução dos canais naturais de drenagem, saneamento básico não implementado, loteamentos irregulares, são várias situações que implicam nessa problemática, mas a principal é a falta de planejamento urbano. A cidade tem crescido desordenadamente, e isso não foi diferente no Guaibim, não temos visto gestores preocupados em solucionar esse tipo de problema, não é de hoje que o Guaibim sofre com os alagamentos”, apontou Cláudia.

A conselheira apresentou o que precisa ser feito para combater os alagamentos nos trechos urbanos da Avenida Taquary. “O primeiro passo para termos uma solução desse problema é desobstruir os canais de drenagem ou criá-los, precisamos deixar a água escoar. Temos o canal de drenagem do Rio dos Índios que foi aberto alguns anos, fizeram uma intervenção muito comprometedora, os donos de loteamento e de construções, foram aterrando, manilhando, e esse canal virou um funil, e aí essa água que teria que ir pelo caminho natural dela, vai para algum outro lugar, o que complica. Além de desobstruir esses canais, é preciso conscientizar a população, pois a maioria das construções de Guaibim são irregulares, não possuem alvará, e quando alguém denuncia o fiscal vai lá e fica por isso mesmo. Temos que cobrar os padrões urbanísticos, através do Plano Diretor Urbano (PDDU), da lei de uso e ocupação do solo, que apesar de estarem defasados trazem padrões urbanísticos, trazem referências para a ocupação desse solo, precisamos começar a fazer as ações ainda que sejam pequenas, precisamos tomar alguma providência sim, e cabe a gestão pública municipal fazer isso. Temos que desobstruir esses canais, promover o ordenamento urbano, disciplinar as construções se quisermos ter o nosso atrativo turístico, se quisermos ter a nossa praia. Não é possível termos um espaço belíssimo de lazer que atrai turista, que movimenta a economia não sendo bem cuidado. A Prefeitura principalmente, que é a gestora do distrito, precisa estabelecer critérios e principalmente fiscalização no Guaibim. O Plano de saneamento da época da gestão passada, que sinaliza ações para o Guaibim ainda está tramitando pela Câmara, não foi aprovado, leva-se muito tempo para aprovar um documento técnico que quando se efetiva já está defasado”, destacou.

Cláudia também ressalta a responsabilidade dos moradores para com o Guaibim. “É preciso que os moradores de Guaibim se conscientizem de que precisam zelar, os investidores precisam se conscientizar que precisam zelar do Guaibim e juntos buscarem mecanismos de controle, se quisermos ter como prevê a Constituição Federal, um ambiente ecologicamente equilibrado e sadio à qualidade de vida, e que é dever não só dos gestores, mas também da população em geral. Precisamos pensar qual cidade queremos, o que queremos para o nosso bairro, para a nossa rua, e agir cobrando dos órgãos responsáveis a solução dos problemas”, sinalizou.

Francisco Almeida, engenheiro ambiental da Secertaria Municipal do Meio Ambiente

Francisco Almeida, engenheiro ambiental da Secertaria Municipal do Meio Ambiente.

 

O engenheiro ambiental Francisco Almeida Gomes Júnior traz mais esclarecimentos sobre a situação ambiental em que vive o Guaibim. “O distrito do Guaibim foi desenvolvido numa área localizada sobre terraços marinhos holocênicos, originada pela deposição sucessiva de cordões litorâneos, durante o processo de regressão marinha ocorrida há milhares de anos. Esse processo favoreceu a formação de cordões litorâneos intercalados com áreas alagadiças. Devido a porosidade do solo, a superficialidade do lençol freático (em torno de 1,5 m), e as altas precipitações pluviométricas (ultrapassam 1800 mm), há ocorrência de alagamentos durante todo o ano. Reflexo disso é o que acontece na área urbanizada, principalmente na região da Avenida Taquary, onde não foram respeitados os parâmetros ambientais e urbanísticos, como Taxa de Ocupação e Tamanho Mínimo de Lote, promovendo a impermeabilização do solo e consequentemente reduzindo as áreas de infiltração, provocando alagamentos no período chuvoso”, explicou o engenheiro.

Diana Farias, presidente da Câmara Técnica de Turismo da Costa do Dendê

Diana Farias, presidente da Câmara Técnica de Turismo da Costa do Dendê.

Moradora do Guaibim há seis anos, a atual presidente da Câmara Técnica de Turismo da Costa do Dendê e secretária de Turismo de Cairu, Diana Farias, compartilha seu ponto de vista do que tem visto no Guaibim. “Venho convivendo com essa incômoda realidade de inundações sempre que ocorrem chuvas intensas. Infelizmente, não só no Guaibim, mas também em toda a cidade de Valença, constroem-se em todos os lugares e, na maioria das vezes, sem a devida anuência da prefeitura local, em lugares sem a menor infraestrutura, inexistindo redes de esgotamentos sanitários e de água pluviais. Aqui no Guaibim, em particular, não é diferente, principalmente por ser um local plano, onde a água não tem para onde ser drenada, apenas infiltra no solo que logo fica saturado, provocando as inundações. O poder público é omisso, não fiscaliza, não promove qualquer obra de saneamento básico, de urbanização e o volume de construções é crescente. Lamentavelmente não vislumbro nenhuma solução para o problema a curto ou médio prazo, pois inexiste vontade política”, desabafa Diana.

Diana aponta ainda má gestão dos recurso destinados ao distrito. “O projeto de revitalização de nossa orla, principal atrativo turístico, também contempla obras de infraestrutura urbanística e em sua última atualização previa a aplicação de recursos da ordem de cerca de R$ 12 milhões, de acordo com a Secretaria de Turismo do Estado. Além disso, observa-se o descaso da aplicação coerente de outros recursos, como os R$ 500 mil de uma emenda parlamentar do então deputado José Carlos Araújo conseguida pela ação do então Secretário de Turismo do Estado, José Alves Peixoto Júnior, que ainda não foi devidamente aplicado. Uma lástima para qualquer localidade, ainda mais se tratando da única praia da cidade, que poderia estar sendo administrada de forma a gerar riquezas durante todo o ano através da atividade turística”, pontuou.

Francisco Neto, morador do Guaibim, diretor geral da Faculdade FAESB

Francisco Neto, morador do Guaibim, diretor geral da Faculdade FAESB.

Também morador do distrito, o diretor da Faculdade FAESB, Francisco Neto, que há dois anos reside na Avenida Taquary, comenta sobre o problema dos alagamentos. “Nesse tempo que estou morando aqui percebi que existe um problema crônico de infraestrutura na Praia de Guaibim, onde várias ruas não tem escoamento, drenagem de água, e devido a essa falta de infraestrutura acabam surgindo as poças de água. Um fato preocupante que eu comecei a observar é que as vias asfálticas estão começando a ficar alagadas, coisas que a gente não via há um tempo atrás, esse ano grandes trechos da Avenida Taquary ficaram alagados, as ruas transversais também com acúmulo de água, grandes poças de água, tem casa próximas a minha que tem praticamente uma piscina na porta. Esses alagamentos acabam trazendo um problema de saúde pública, porque água parada é fonte de proliferação de doenças, como leptospirose, dengue, zika e chikungunya. É um problema que precisa ser solucionado com brevidade”, afirmou Neto.

Daniela Lima, moradora e empresário da Praia de Guaibim

Daniela Lima, moradora e empresário da Praia de Guaibim.

Daniela Lima, empresária do Guaibim, com empreendimento localizado na Avenida Taquari falou sobre a situação do Guaibim, agravada pelas construções irregulares e a falta de fiscalização. “O problema do Guaibim é que começou tudo errado, aqui nunca teve projeto para nada, não em planejamento, as construções são feitas em lugares inapropriados, sem licença, sem alvará, sem fiscalização, sem engenheiro. Muitos condomínios que foram feitos recentemente, o proprietário colocou manilha como bem quis, e aí quem sofre com isso são as pessoas de menos conhecimento, que veem e fazem também, quando vem a chuva inunda, e fica os comentários, mas onde começou tudo, ninguém vai lá mexer. Ficamos à mercê das autoridades que nada fazem, sai secretário, entra secretário, o último não é nem de Valença, não conhece as deficiências do Guaibim, não conhece as feridas de Valença, faz as coisas ouvindo outras pessoas que não tem capacidade, nem conhecimento e faz o que não é pra fazer, recentemente passaram a máquina no terreno e abriram uma lagoa. Precisamos de pessoas técnicas que conheçam as feridas do Guaibim para poder tratar. O Guaibim hoje se encontra abandonado, pra conseguir recuperar está muito difícil, é um descaso total das autoridades”, opinou a empresária.

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Fonte: Jornal Valença Agora

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