foto Francisco NetoPor Prof. Francisco Neto - Historiador UNEB-Campus V-SAJ;

Mestre em Educação EST-RS; Doutor em Direito-UCSF-AR.

 

Hodiernamente na historiografia brasileira existem várias correntes e várias versões para a proclamação da República. A versão tradicional é a mais conhecida, onde afirma que a proclamação seria resultado das crises que abalaram o fim do segundo Reinado de D. Pedro II, enfatizando a questão religiosa, militar e abolicionista como precípuas para o advento da república. Contudo alguns historiadores seguem caminhos diferentes e interessantes, como no caso de Emília Viotti que aborda o tema por uma ótica diferenciada a qual enfatiza os acontecimentos partindo de novas problemáticas. Frisando logo de inicio que não foi à abolição que provocou a queda da Monarquia, mas na realidade teria ajudado a “demolir” uma estrutura colonial de produção que com muito custo ainda se mantinha frente as novas condições  surgidas no país a partir de 1850, a mesma continua afirmando e duvidando da visão tradicional diretamente para a queda da Monarquia e a instalação da República.

A Monarquia teria sido derrubada em 15 de novembro de 1889, por um golpe Militar, onde o Exército Imperial, comandado pelo Marechal Deodoro da Fonseca, os fazendeiros do Oeste paulista e representantes das classes médias urbanas, teriam participação conspícua na transição da Monarquia para a República. E afirma que a proclamação teria sido resultado não de um único fator, mas de profundas transformações que se vinham operando no país, vários fatores reunidos como o da decadência das oligarquias tradicionais ligadas à terra, a abolição ,a imigração, o processo de industrialização e urbanização, o antagonismo entre zonas produtoras, a campanha pela federação, que contribuíram para minar a força monárquica e para deflagrar a subversão.

Seguindo outra linha de raciocínio aparece o historiador Nicolau Sevcenko   que ao contrário de Viotti altera a data da proclamação da República  para 1870. Inserindo-a no contexto do final da guerra do Paraguai, que causou grande endividamento, desestabilizando institucionalmente o país.

Nesse contexto pode-se ressaltar 03 (três) grandes movimentos que estariam se estruturando, ganhando força e impulsionariam o surgimento do pensamento Republicano e com isso a Proclamação da República: O episódio de canudos, que chegou a ser a 3° maior cidade da Bahia em população, considerada o último pilar de resistência Monárquica pelo fato de Antônio Conselheiro ser um Monarquista declarado: A revolta da vacina, manifestação contra o abuso de autoridade dos governantes e advento do positivismo de Augusto Comte esse, em escala internacional, que originou a revolução cientifica tecnológica que acabou alterando hábitos e costumes cotidianos, mudando os modelos de comunicações e trabalho. Essas mudanças afetaram desde a ordem e as hierarquias sociais até as nações de tempo e espaço das pessoas.

Abrindo mais ainda o leque da historiografia brasileira é de se enfatizar o historiador José Murilo de carvalho que aborda uma ótica diferente, contudo instigante que nos revela o que teria causado o evento da República seria a estrutura mental da elite, afirmando ter se formado uma estrutura mental da República na época.

A obra “Os Bestializados” fala sobre o impacto da proclamação do novo regime a nível das mentalidades onde espalhara-se um sensação de libertação que acabou atingindo o mundo dos sentimentos e atitudes. Afirmando ainda que a saída de figura simbólica do “Pai” que simbolizava o Imperador significou a emancipação dos que seriam simbolicamente seus “filhos”, os súditos: O Povo.

Desta forma podemos então inferir que vários fatores, vistos por diferentes paradigmas historiográficos influíram na transição da Monarquia para a República, ficando claro que mesmo nas versões tradicionais quanto “modernas“ de manter o povo sempre afastado do cenário Político, mais uma vez foi feito de “Massa de Manobra”, ou como diria o próprio Jose Murilo de Carvalho, onde “o povo ficou assistindo a tudo Bestializado”, e com certeza e como sempre a margem do processo decisório, sendo mais uma vez ludibriados pelos que fazem de tudo e usam de todos os artifícios  para  permanecer no Poder.

 

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