Artigo por Dirceu Abreu, professor do curso de Administração da Faculdade de Educação Social da Bahia - FAESB.

O PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO COMO TRABALHADOR

“Alega-se que, com a abolição da propriedade privada, toda a atividade cessaria, uma inércia se abateria sobre os homens. Ora, se esta linha de raciocínio estivesse correta, há muito que a sociedade burguesa teria sucumbido, pois os que nela trabalham mais, são aqueles que menos lucram, enquanto os que mais lucram são justamente os que menos trabalham”. (Karl Marx)

2.1 Contradição entre ideia e realidade de trabalho em educação.

Nossos profissionais do ensino submetidos a um sistema educacional centralizado e burocrático, são transformados pouco a pouco em meros executores de programas ou aplicadores de técnicas educacionais elaboradas em gabinetes GADOTTI ( P.19), obscurece a importância do  trabalho de um profissional  que exerce uma função imprescindível na manutenção da ordem  social, um contraste gritante entre ideia e realidade do trabalho; em CHAÍ  (1985 :51) este trabalho que a sociedade nos incute que dignifica, valoriza e enobrece o homem, e não se analisam as condições reais de trabalho que brutalizam , entorpecem, exploram e ,que ,na maioria das vezes ,escraviza  e manipula certos homens em benefício de uns poucos, isto é ideia de trabalho e não da realidade histórico-social do trabalho.. verifica-se que o profissional em educação está de um todo inserido dentro desta categoria de explorado, entorpecido e alienado, devido a péssima remuneração que, os impedem de atualizar seus conhecimentos, dividindo-se incessantemente , entre vários empregos na corrida pela sobrevivência , submetendo-se  frequentemente ao julgo de direções arbitrarias, escolhidas pôr imposições políticas  quase sempre despreparadas para exercer corretamente e com um mínimo de democracia suas funções diretivas .

2.2 Trabalho - mais –valia e exploração do trabalhador.

Sucumbindo no que MARX  descreve como mais  - valia, onde as horas gastas na correção de avaliações e nos planejamentos pedagógicos não são efetivamente remunerados, ou seja, segundo MARX ( p.75) o  valor do uso é determinado pelo tempo utilizado para produzir; o trabalhador recebe em troca da mercadoria um salário equivalente ao tempo gasto para produção e distribuição da origem a mais - valia e, graças a mais- valia, o valor de troca da origem a valor capitalista é a alienação do trabalho cujo o produto  não pode ser reconhecido no produto do seu trabalho; o valor do tempo não remunerado que dá origem ao que MARX denomina mais-valia. O professor trabalha muitas horas sem remuneração, mais do que qualquer outro profissional.

2.3- Formação do profissional e a contradição da prática educativa.

Instrutor e cobaia e da última exótica prática pedagógica, fruto de gabinetes refrigerados distante quilômetros da real situação de sala de aula, às vezes cheios de boas intenções e em outras, apenas tentando justificar salários em projetos eleitoreiros, o professor torna então, toda sua anterior prática didático-pedagógica apenas uma sucata cujo o destino é o lixo, como o professor pensa de sua prática educativa? Diríamos que ele tem uma cabeça escola novista. Devido ä predominância da influência progressista nos cursos de educação, o professor absorveu o ideário da escola nova. Ele concebe o processo educativo como tendo o aluno por centro. O ato educativo se realiza na relação professor- aluno; relação interpessoal. Por isso ele está disposto a levar em conta, antes de tudo, os interesses do aluno. Para isso ele espera contar com a assessoria dos especialista nas ciências humanas (especialmente a psicologia, a sociologia, a biologia) aplicadas a educação. Acredita que sua classe será pouco numerosa para que ele possa se relacionar pessoalmente com seus alunos. E como o segredo da boa aprendizagem é a atividade dos alunos, ele espera também que irá contar com uma biblioteca de classe, laboratório, material didático, abundante e variado.

Formado da maneira acima descrita e armado de bons propósitos, o nosso professor se dirige a classe que lhe foi designada. O que encontra? Diante de si, a sala superlotada; atrás um quadro-negro e giz, se tiver sorte. Mas  e a biblioteca, o laboratório, o material didático? Descobre que tudo isso não passa de um luxo reservado a raríssimas escolas eis, pois o primeiro ato do seu drama: sua cabeça é escola novista mas as condições em que terá de atuar são as da escola tradicional. Isso significa que ele deverá ser o centro do processo de aprendizagem; que deverá dominar com segurança os conteúdos fundamentais que constituem o acervo cultural da humanidade e transmitir de modo a garantir que seus alunos os assimilem. Em suma; ele não pode se relacionar pessoalmente com alunos tão numerosos, mas cabe-me fazer o que eles aprendam. Na verdade as coisas estariam menos complicadas se ele fosse um professor tradicional mas ele não foi preparado para esta situação. Está confuso. Não compreende bem o que se passa. Então ele se revolta, desanima, busca apoio dos colegas, se acomoda, se adapta. SAVIANE (P.41). E esta adaptação quase sempre é interpretada como acomodação por setores ditos progressistas da educação.

2.4- Educação –conceitos de globalização e qualidade total.

Decorrente do processo da globalização e dos conceitos inovadores de qualidade total, ocorre um questionamento que, se todo este contexto de agonia não faz parte de um obscuro plano para anular os estímulos de uma classe, para que esta, satisfeita no mínimo, venha a exercer bem suas funções, e  que possam, efetivamente, através de uma justa valorização, possa vir a  provocar transformações e, deixando de reproduzir o modelo de resistência Entretanto, o drama do nosso professor não termina ai. De repente despenca sobre ele as exigências da pedagogia oficial. Ele deve ser eficiente e produtivo. Para isto ele deve atingir o máximo de resultado com o mínimo de dispêndio. Logo, ele deve racionalizar, deve planejar suas atividades. Para isso há semanas de planejamento em que ele deve preencher certo número de formulários objetivos educacionais, objetivos instrucionais, estratégias, avaliações somáticas Sua disciplina é um módulo que faz parte de um “pacote” que é um subsistema (aberto de preferência) Se ele operacionalizar os objetivos e executar cada passo de acordo com as regras preestabelecidas, o resultado previsto será atingido automaticamente. O nosso professor não sabe, mas intui, senti na pele que tudo isso não passa de uma tentativa, ainda que abortada, de taylorizar o ensino. Com isso ele é deslocado do eixo do processo educativo. Seu trabalho tende a ser objetivado. Já não será mais o processo do trabalho pedagógico que se ajustará ao seu ritmo, mas é ele que deverá se ajustar ao ritmo do processo pedagógico. A tal ponto que ele poderá ser substituído indiferentemente, sem prejuízo do processo, por qualquer outro professor, ou, até mesmo pela máquina de ensinar. O nosso professor demonstra boa vontade, ensaia enquadrar-se no esquema, mas como pode ele identificar-se com algo tão impessoal? Então ele reluta, se esquiva, resiste e contorna; atende formalmente as exigências e contorna; atende formalmente as exigências e age a sua moda. SAVIANI (P.42). E exatamente por ser tão exigido e com tantas situações desfavoráveis torna-se um profissional ansioso, mal resolvido e sem motivação.

2.5- Educação –apropriação e desapropriação do saber.

Há, contudo, neste contexto de agonia a questão da contradição do que representa o espaço da educação é espaço de apropriação/ desapropriação/ reapropriação do saber. Sendo o saber força produtiva e sendo, a sociedade capitalista, a classe que detém os meios de produção se empenha em se apropriar do saber, desapropriando-o da classe trabalhadora. contudo, sendo impossível a apropriação exclusiva do saber A classe capitalista sistematiza o saber e o devolve na forma parcelada. a classe trabalhadora, por sua vez, se esforça por reapropriar o saber de que é desapropriada a educação neste momento é um instrumento de luta. Da mesma maneira analisada esta contradição em CURY (P. 91). Assim, a escola que reproduz a ideologia dominante também avança e civiliza possibilitando a assunção de elementos que possam ser, de outro ponto de vista, reelaborados exige pois, que se sofra a presença de elementos que lhe sirvam de conteúdo. Esta contradição se funde exatamente na questão de que é necessário conhecer para opor-se; conscientizar-se para absorver e negar e ao negar reelaborar.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CHAUI, Marilena.  O que é ideologia. São Paulo: Editora Brasiliense, 1980.

CURY, Carlos R. Jamil. Educação e contradição. São Paulo: Editora Cortez e Autores associados, 1992.

GADOTTI, Moacir. Educação e sociedade: concepção dialética da educação brasileira. São Paulo: Editora Contemporânea, 1983.

SAVIANE, Demerval. Filosofia da educação brasileira. São Paulo: Editora Civilização brasileira, 1994

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