João Edson Aguiar Viana celebrou no último dia 25 de fevereiro, seu Jubileu de Ouro, cinquenta anos de dedicação à Loja Maçônica Paz e Fraternidade de Valença. Na solenidade, recebeu homenagens e gestos de respeito e consideração da família maçônica. Viana é casado e pai de dois filhos. Chegou a Valença em dezembro de 1964, ingressando na ‘Paz e Fraternidade’ no dia 13 de dezembro de 1966 e deste então é um frequentador assíduo da loja, dedicando sua vida e dando sua cota de contribuição na Maçonaria enquanto célula da sociedade organizada, por aqui existir e sobreviver da mesma.

 

Nesta entrevista, Viana nos fala sobre suas vivências na Maçonaria e a essência dessa entidade que ainda é vista com preconceito por alguns. Acompanhe.

 

Qual a importância de um membro da Loja Maçonica ter tanto tempo de assiduidade e ser reconhecido com essa placa de homenagem na sua loja?

 

Naturalmente esse coroamento é devido às atitudes que o membro toma diante daquela filosofia que ele abraçou, porque o maçom como tal, ele é preocupado com a sociedade e em manter-se sempre como exemplo, combatendo a ignorância e fazendo com que os erros sejam menores, então esse é o papel dele na sociedade fazendo com que todos os membros que lá estejam sejam exemplos não só para os novos que ingressam, mas principalmente para sociedade. Portanto o maçom é um homem diferenciado, não é melhor que os outros homens, mas ele tem mais responsabilidade de ser exemplo para que a sociedade entenda que a maçonaria é uma instituição de alto gabarito e que se preocupa realmente com o desenvolvimento da pátria.

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Viana, você é tido na sociedade como uma pessoa íntegra. A nossa sociedade hoje vive uma grande crise em relação a valores, principalmente a liderança. A quê você atribui essa carência de novos líderes que possam assumir atitudes que venham construir uma sociedade melhor?

 

Eu particularmente acredito que seja o desanimo, os péssimos exemplos a partir dos poderes públicos, daí o cidadão que é realmente de bem, se sente constrangido em participar de agremiações políticas buscando assim cumprir um papel verdadeiro que seria o dele, mas aí os temores fazem com que recuam. Temos líderes que considero ocultos porque eles são realmente capazes, mas devido o assombro que eles têm diante do poder, até do poder econômico e do poder político, eles recuam e ficamos tolhidos, sem novos líderes. Acredito que no futuro talvez, essa juventude que está mais esperta, mais consciente de seu papel de cidadão, venham se tornar aquilo que nós desejamos, líderes capazes e façam com que a nossa comunidade, o nosso estado e o nosso país tenham o desenvolvimento necessário, fora todas essas mazelas que nós assistimos de braços cruzados... Até a nossa própria associação entra no combate desta praga que é a corrupção.

 

Existem hoje em todo o mundo várias classes sociais reivindicando seu espaço e seus direitos como as prostitutas e uma série de outras classes. Na Itália houve um movimento em prol da família, estruturada, organizada como referência para se constituir uma célula social. O que a maçonaria pensa em relação a contribuir com movimentos sociais que venham demonstrar na sociedade uma forma mais exequível de ser enquanto cidadão?

 

Eu posso falar particularmente porque nós temos um comando, no nosso caso somos subordinados a Grande Loja do Estado da Bahia que tem o Grão Mestre que é o ‘chefe geral’ da maçonaria no Estado. Todos os encontros de Grãos Mestres que são anualmente eles nunca tratam desse aspecto talvez pela delicadeza, e talvez pelo respeito e tolerância que a Maçonaria prega. Temos que entender que os grupos que existem, no caso o qual foi citado as prostitutas... Gays, lésbicas... São seres humanos que a maçonaria respeita nas suas atitudes, a Maçonaria não está para combatê-los. Sobre as ações para manter a família, não existe ainda declaradamente para nós a iniciativa para que realmente seja mantido o padrão antigo de família, então a Maçonaria respeita a evolução das pessoas, do ser humano achando que eles na sua condição também tem dignidade, perceberemos que eles são cidadãos como qualquer outro, enfim, temos que respeitá-los da forma que são porque são cristãos como nós também, este é o meu pensamento. Agora, a Grande Loja como um todo e a maçonaria de modo geral ainda não manifestou e talvez por respeito a essa parte da sociedade ela se mantem silenciosa achando que é a evolução. porque realmente não é novidade, quem for ler e for buscar no passado vai ver que são atitudes existentes que não eram simplesmente apresentadas publicamente, hoje eles tem liberdade e nós respeitamos a liberdade, portanto aceitamos que seja assim porque não tem como a gente imprimir nessas pessoas os nossos costumes, nossos hábitos. Portanto, a Maçonaria mantém o respeito a toda e qualquer atitude consciente, no caso, sentimos que eles são conscientes, não são vândalos, eles buscam simplesmente o respeito diante da classe social.

 

A Maçonaria é uma instituição secreta e discreta, mas que tem uma série de ações ao longo dos anos, não só no Brasil, na Bahia como também no mundo, em que ela imputou os seus pensamentos, os seus valores e a sua questão de liderança enquanto célula organizada dessa sociedade. O que você poderia pontuar que a Maçonaria realmente contribuiu ativamente e diretamente na evolução da raça humana e que ela também não se apresentou como se fosse reivindicando os seus direitos de contribuição?

 

A Maçonaria no passado, realmente era secreta, hoje ela é discreta porque mantém endereço, tem CNPJ, é facilmente identificável, mas mantém particularidades que só tem valor para os membros dela, mas isso não é segredo, é uma maneira de comunicação. A Maçonaria no passado era secreta e constituída de homens poderosos economicamente, independentes para que pudessem ter suas ações contra o poder que viesse a dilapidar a nossa pátria, portanto na historia do Brasil, nós temos todo movimento de independência, proclamação da república, todos os movimentos básicos formados por maçons não identificados porque a Maçonaria era secreta nas suas ações, fazia o seu trabalho social, politico, sem apresentar a bandeira externamente, ‘liberdade, igualdade, fraternidade’ esse lema francês mantem a maçonaria universal porque realmente é baseada nesses princípios que ela funciona, e hoje o que é que é a Maçonaria, ela se preocupa mais com a parte social, em poder sempre colaborar com as classes menos favorecidas fazendo com que elas também participem do nosso trabalho. No passado, as mulheres pouco sabiam até que seus esposos eram maçons, hoje as senhoras participam nas ações sociais, fazendo com que a sociedade tome conhecimento que a Maçonaria é necessária numa sociedade. Valença é uma cidade que já tem a Maçonaria há 62 anos e nós nos sentimos gratificados pelo reconhecimento da família valenciana porque realmente a Maçonaria tem aqui em Valença, mostrado o seu papel, participado de todas as ações sociais possíveis, esperando assim que ela seja entendida, porque muitas vezes, a maçonaria como é uma instituição fechada, ela é confundida por muitos, talvez por falta de conhecimento. Então a Maçonaria é uma instituição de homens puros, limpos, dedicados, de alto grau moral porque ela o assim exige. A Maçonaria em si é apolítica, mas se preocupa com o estado do país, com tudo que está assistindo porque realmente é o papel dela zelar para que seja mantida a democracia e que a pátria esteja sempre alerta, firme e combatente a todas as mazelas que existem.

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A família Viana recebeu o carinho da Loja Paz e Fraternidade durante confraternização do Jubileu de Ouro, no dia 25 de fevereiro 2016.

Existe no mundo hoje algumas grandes preocupações, o Brasil tem um ambiente extremamente favorável para o mosquito Aedes aegypti que transmite a dengue, a chikungunya e uma série de outras pragas que, inclusive, algumas delas já foram eliminadas ao longo das décadas. Nos Estados Unidos, a ONU se pronunciando como a grande praga do mundo e vários países preocupados com o mosquito, a penetração dele e a contaminação, o poder de devastação que ele tem, nos Estados Unidos na semana passada foi apresentado um estudo que o nível da água está se elevando em todo o planeta e que se a humanidade não tomar alguns posicionamentos, daqui a poucas décadas ele tende a aumentar em média 1 m e 30 cm inundando várias cidades em todo o mundo. Diante desses quadros e desses aspectos, qual seria o papel da Maçonaria ou do maçom na sociedade em relação a esses acontecimentos que podem devastar ou prejudicar muito a sobrevivência da raça humana?

 

Isso realmente já está previsto há muito tempo, mas acontece o seguinte, tudo vai depender da educação, porque nada é feito sem base. Nós não somos tão grandes em termos de número, mas ela se preocupa sim com estes acontecimentos. No momento não se vê ainda qual o papel que ela tomaria, mas estamos preocupados porque nós somos parte da sociedade, então temos que realmente pensar nisso não só no aspecto político que é necessário, como também no aspecto de saúde e de perigo que o nosso sistema está ocorrendo, porque é um assombro, é uma ameaça muito grande porque não só o perigo de surgir doenças que, até de certa forma estou feliz porque vejo que brasileiros estão no combate a esse maleficio descobrindo meios de combater essas doenças. Temos a preocupação, tudo está ocorrendo pela ganância, pela inconsciência, o homem hoje vive o presente, não se tem consciência que o vizinho tem necessidade, “eu vou cuidar de mim e o vizinho que se dane”, é esse o pensamento de muitos, aí o que está acontecendo em todo o mundo.

 

Existe uma palavra hoje muito debatida e pregada que é a tal da sustentabilidade. A sustentabilidade envolve muita coisa, inclusive também a consciência do que você acabou de falar, que não se precisa ter muito para sobreviver bem, necessita dentro daquilo que se sobrevive procurar viver da melhor maneira possível. O que está faltando para que as pessoas tenham um melhor entendimento nesse aspecto?

 

O principio de tudo isso é a Educação. Agora mesmo no combate dessa praga [Aedes aegypti] nós sentimos que tem pessoas que estão ouvindo as queixas, as denúncias e não procuram fazer a sua parte, então se não envolvermos todos, se não voltarmos a consciência de cada um, olhar que o mundo não é meu, a cidade não é minha, o bairro não é meu, é de todos nós, com certeza, a conscientização daria um resultado positivo que nós desejamos. É isso aí que precisa em nós, agora sempre temos que olhar pra educação, porque sem educação não tem família, não tem comunidade, não tem município, não tem estado, não tem país. Portanto, acho que toda a sustentabilidade vem da educação, da consciência de cada elemento do seu papel como cidadão.

 

Você chega a mais de seus 70 anos com cinquenta deles dedicados à maçonaria. Valeu a pena você chegar hoje a mais de cinquenta anos, ter uma família organizada, dois filhos e com tanta dedicação a uma célula da sociedade organizada nesse estágio de vida? Você fazendo uma reflexão, justificou a sua dedicação, a sua contribuição?

 

Sim, valeu a pena. Primeiramente eu agradeço a Valença, ao povo de Valença que eu tenho no coração porque eles me abraçaram desde que botei meus pés aqui, vim trabalhar no Banco do Brasil, meu sonho era ser médico, era pra retornar com dois anos pra fazer o vestibular, ai fiquei mais ou menos uns 21 anos, só sai de Valença por pressão da esposa para melhor educação dos filhos. O povo de Valença nos abraçou e na minha função eu tive a felicidade de ter muitos amigos e isso somou bastante na minha vida, aprendi muito com os irmãos, com os homens que cultivavam e davam pra nós o alimento, portanto, eu sou grato, no meu caminho maçônico devo tudo a sociedade valenciana que sempre me olhou com bons olhos e eu sempre busquei retribuir não só como cidadão, mas como funcionário nas minhas obrigações, nos meus sentimentos e na parte social. Com certeza a minha vida e da minha família toda tem esse sentimento de gratidão ao povo de Valença. Valencianos me permitam que eu me sinta valenciano também porque é com amor que eu estou aqui na nossa querida ‘Paz e Fraternidade’, junto com meus irmãos. Sou feliz por ter vindo para Valença, o que sou hoje com 76 anos, 50 de maçonaria que me deu sustento para manter-me com caráter puro, dedicado à causa comum que é o crescimento da nossa sociedade, torço pelo progresso de Valença, espero que tenhamos felicidades pra que Valença seja a Valença que desejamos, a Valença brilhante, ativa e sempre crescente.

 

Na sua avaliação, a Maçonaria ao longo das suas décadas de Valença, contribuiu nessa essência que a Maçonaria tem de diminuir os erros e combater a ignorância?

 

Sim, não talvez no volume necessário, porque cada um de seus membros é um vetor, então o nível educacional e cultural dos membros não são iguais, cada um tem a sua potencialidade, acredito que cada um faz a sua parte. Não talvez, no nível que Valença mereça, porque nós somos poucos, mas mesmo assim, somamos até mesmo como exemplo, porque todos reconhecem que somos diferenciados porque buscamos sempre o caminho da honestidade, da tolerância, do combate a ignorância, respeito a todas as classes, enfim, nesse sentido eu acho que a Maçonaria cumpre seu papel. Valença foi beneficiada e será sempre com a renovação dos seus membros, hoje a maioria deles são universitários, tudo isso facilita o entendimento do mundo moderno. Está buscando nos momentos cívicos se apresentar publicamente para que a sociedade tome conhecimento da sua presença, está sempre de braços abertos para que realmente a comunidade valenciana seja essa sociedade promissora que está buscando sempre o crescimento.

 

Suas considerações finais.

 

Agradecer ao Jornal porque tem feito um papel social muito importante divulgando tudo de bom que a nossa região tem. A Vidalto Oiticica [diretor do jornal Valença Agora] e toda equipe, um cidadão dedicado à causa valenciana, sempre buscando o melhor para ela no seu trabalho jornalístico, buscando fazer com que a sociedade fique bem informada de tudo que é possível, tudo que deve ser feito para que nossa sociedade realmente seja essa cidade maravilhosa e amada por todos. A minha consideração final é de agradecimento a Vidalto que também faz parte da nossa instituição, um cidadão dedicado, coerente das suas atitudes e do seu instrumento como jornalista nos mostra que realmente a Maçonaria está certa quando busca cidadãos, quando encontram cidadãos como o nosso Vidalto capazes, isentos de qualquer julgamento, e ele sempre faz o seu papel forte, poderoso, deixando a sociedade de Valença bem informada. Eu particularmente agradeço por ter celebrado esses 50 anos, eu sou uma pessoa simples e agradeço, sou feliz pelo trabalho e o pensamento. Se viram em mim essas qualidades agradeço e fazer com que a ‘Paz e Fraternidade’ esteja eterna, tendo membros como nosso valoroso Vidalto que com seu instrumento de comunicação tem feito Valença e todo o Baixo Sul conhecer a causa valenciana. Portanto muito obrigado e que Deus te ilumine e mantenha você esse Diretor sábio, dedicado, sério nessa trilha perigosa, difícil que é possuir um jornal. Que Deus abençoe não só a você, mas a sua família, e faça com que esse jornal seja sempre crescente, que nele seja sempre noticiado coisas boas, coisas que façam Valença ter um futuro melhor.

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