carlos-magno

Hoje, segunda-feira, 31\10, estávamos conversando na varanda, onde tomamos o café da manhã. Eu e Mamãe. Ela, muito lúcida, aos 88 anos, contou-me que quando era menina, havia o costume de que quando encontravam frutas germinadas, chamadas de filipe, frutas gêmeas. xifópagas; então, essas frutas, os filipes eram entregues nas mãos de uma pessoa, que só saberia do que se tratava ao abrir as mãos. Uma brincadeira.

Quem deixava ao filipe, imediatamente gritava: pague o meu filipe! Pague o meu filipe! A pessoa então ficava obrigada a dar um presente a quem lhe entregou o filipe. Era uma diversão em um tempo de inocência. Mamãe, naquele doce tempo, tinha  10 anos. Morava com a família em Piracanjuba.

Havia em Piracanjuba, terra de Mamãe e depois minha e de minhas irmãs, um doutor. Dr. Aldenor. Amigo do tio de Mamãe. O Dr. era muito amigo de um dos tios dela, tio João, delegado na cidade. Parece-me que Mamãe passava muito tempo na casa da avó, que eu conheci e a chamava de Madrinha. Uma lembrança vaga.

Em uma volta pelo quintal, era tempo de jabuticabas, Mamãe encontrou duas jabuticabas unidas. Emendadas. Xifópagas. Levou para dentro de casa e lá estava o Dr. Aldenor tomando uma xícara de café, rés ao rabo do fogão de lenha. Tio João estava sentado em uma cadeira de vime e a Madrinha assava um bolo que cheirava à laranja.

Mamãe se aproximou dele e o pediu que fechasse os olhos e abrisse as mãos. O médico obedeceu. Ela colocou as jabuticabas nas mãos dele e as fechou. Pode abrir as mãos! O doutor abriu e lá estavam as jabuticabas gêmeas, unidas pela mesma casca.

Não há de ver que na outra visita que fez, uma semana depois, o doutor levou uma prenda para a Mamãe. Um corte de seda para um vestido. Lindo, ficou lindo aquele vestidinho, a Mamãe me contou como se estivesse vendo o vestido de seda, com o qual ela foi assistir a missa de Domingo de Ramos.

Agora, quanto à etimologia do nome filipe, vem de filos, amigo. O que ama muito. Grego. Então, duas jabuticabas ou outras frutas, na mesma casca são bem amigas.

Por hoje é só.

*Publicado na edição impressa nº 598, do jornal Valença Agora.

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