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Não me lembro de quando ouvira falar da obra de Lawrence Durrell, em particular, n’O Quarteto de Alexandria. Tenho, porém, uma vaga lembrança que possa ter sido num dos Cadernos de Cultura de algum grande jornal do Rio ou de São Paulo, logo que voltei do exílio, no tempo em que precisava de modo premente atualizar-me sobre o que ocorria no Brasil. Isto no tempo em que eu ainda tinha ilusões sobre a honestidade da grande imprensa brasileira. Não posso descartar, porém – voltando a Durrell e sua obra que mais sobressalente – ter conseguida aquela informação em algum órgão de informação cultural em algum país durante o meu próprio exílio. No entanto, aquela informação perdeu-se, não sei por estar vivendo uma fase em que fugia, como diabo da cruz, de obras literárias, de ficção em que se tinha que ler várias vezes, sempre tendo à mão tratados de filosofia e manuais sobre crítica literária, ou alguns daqueles artigos que nos guiassem pelos labirintos de metalinguagem e intricados monólogos interiores, além do completo conhecimento de psicanálises e ciências humanas correlatas. Aliás, continuo avesso a estas obras, pois acredito que o papel primacial da obra de ficção é contar uma boa história – como o fizeram os escritores da própria Bíblia, o fez Homero, o fez Cervantes, entre tantos outros, como os nossos: Machado de Assis, Graciliano Ramos e Guimarães Rosa, por exemplo –, feito isto, e depois então, pode-se deleitar (e sonhar que nos deleita) como sua erudição acadêmica ou com os seus conhecimentos sobre os intricados conflitos que povoam a sua mente e que eles julgam que podem povoar também a mente de toda a humanidade, ou de boa parte dela. O certo, no entanto, é que me preveni de sua aproximação, mas pode ter ocorrido ainda que a situação financeira daqueles tempos aziagos proibisse-me de adquirir os quatro livros que compõem a supracitada obra.

A consequência mais cruel, entretanto – e isto constato agora – foi que por um capricho (ou pueril preconceito) que excluir-me de conhecer uma obra maravilhosa, repleta de lirismo e sutil melancolia. Mas, pode perfeitamente ter-se dado que naquela época toda a beleza existente em Durrell não pudesse ser aproveitada por duas razões: ser abalroada pela muralha da minha ignorância; ou faltar-me a maturidade, humana e intelectual, para assimilar a sutileza contida, de forma tão delicada, em sua narrativa.

Não sei.

Voltando a Durrell, e sua obra que mais sobressalente, finalmente, recordo, com segurança, que li em Milan Kundera – não se em um dos pequenos ensaios que ele faz amiúde em seus romances, ou se em uma entrevista que ele dera e que alguma anódina revista (ouem algum magazine que não são muito bem desta área cultural, mas que por aí transita, e que encontramos em salas de médicos ou dentistas), o certo é que tenho convicção de ter lido alguma referência substantiva de Kundera sobre a obra de Durrell. E como admiro muito os romances daquele autor – apesar da sua defesa robusta das maravilhas do capitalismo, a que ele chama de democracia –, apesar do seu anticomunismo tacanho, não só registrei suas informações, como me propus a conferir, lendo algumas das obras daquele escritor. Aliás, nesta fase de minha vida, antes de morrer, estou prestando conta a mim mesmo (e a meu intelecto), lendo todos aqueles livros que não tinha conseguido digerir em tempos passados. Neste rol estão:Hermann Broch (1886-1951); Elias Canetti (1905-1994), de quem só li “O Auto de Fé”; Robert Musil (1880-1924); Isaac Babel (1894-1941); Vladimir Nabokov (1899-1977), de quem só li Lolita. Dostoievski, de quem estou precisando ler “Os Irmãos Karamazov”, pois só li “O Crime e o Castigo”. José Lezama Lima (1910-1976) e José Donoso (1924-1996), pois estes dois últimos são duas grandes lacunas em meu propalado conhecimento da literatura hispano-americana, aos quais devo somar “O Jogo da Amarelinha”, de JulioCortazar, cuja edição em espanhol (La Rayuela) possuo mas que nunca consegui lê-la completamente.

Desta forma, ajustando as contas comigo mesmo, ou seja, com minha inépcia ou com minha provável ignorância, estou determinando agora mesmo a comprar de “O homem sem qualidades”, de Robert Musil; “Paradiso”, de José Lezama Lima e “O Obsceno Pássaro da Noite”, de José Donoso, com esta atitude espero morrer, quando tal suceder, com menos escultícia.

Dada esta grande volta, insinuando que estes últimos autores citados ou, pelo menos, as obras que deles citei, possam possuir os pontos negativos que eu supus, equivocadamente, existirem em Lawrence Durrell, agora com a esperança de que eles me reservem a surpresa que encontrei nas páginas de Durrell.

Como ainda desejo escrever outra nota do Lawrence Durrell, para encerrar esta que envio agora parao nosso jornal, fornecerei neste momento alguns dados sobre aquele autor e sucintas informações sobre aquela obra que tanto me impressionou. Dizendo, ademais, os nossos brilhantes mestres(as) do ensino de literatura, do nível de uma Rosângela Góes, de uma Raimundinha, de uma Albete Freitas, de um Moacir Saraiva, ou de jovens professores(as), como Juscimare Souza e Fabiane Caldas, por exemplo (já devem existir muitas outros(as), que agora estão iniciando a árdua carreira do magistério. Estes professores precisam ler os quatro volumes de “O quarteto de Alexandria”, que se encontra a disposição dos interessados na Biblioteca Sargento Manuel Raimundo Soares, da FUNCEA.

Lawrence Durrell nasceu em 1912 – segundo informação da orelha do seu livro –, na cidade de cidade de Jullundur, na Índia, tendo se mudando para a Inglaterra, de quem a Índia era então colônia, aos 11 anos. Aos 15 começou a escrever poesia, mostrando assim sua precocidade. Casou-se, quatro vezes, tendo tido duas filhas e tendo vivido em vários países (Grécia, Egito, Argentina e Sérvia), sua obra inclui romances, peças de teatro, poesia, traduções e relatos de viagem, história de humor, cartas e ensaios. Além dos quatro volumes que compõem “O Quarteto de Alexandria” – composto de Justine, Balthazar, Mountolive e Clea –, escreveu ainda vários livros, em sua maioria não publicados no Brasil.

Lawrence Durrell faleceu, na Suíça, na cidade de Sommières, aos 78 anos.

 

Valença, BA, 31 de outubro de 2014

© Araken Vaz Galvão

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