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De Melbourne, Amália Grimaldi. 2016

Há alguns meses atrás, surgiu aqui no meu quintal uma gata fugidia (‘feral cat’). Por ser um animal peculiar, sem rabo, e com uma das patas dianteiras deformada, eu e Frank, com pena desse animal, passamos a alimentá-lo. Talvez porque lembrassem-nos de Frida, a nossa gatinha companheira, lá na casa do Guaibim.

Todas as manhãs lá estava ela, a nos fitar com aqueles enormes olhos de carência através da porta de vidro da varanda.   Como resistir? Resultado, o armário da cozinha, além de nossos suprimentos normais, passou a ser ‘habitado’, lado a lado, por aquela caixa de ração animal de marca conhecida, com cara de gato estampada na embalagem. Imaginávamos ser uma gata, apenas por pressentimento, e demos a ela o sonoro nome de Margarida. Semanas foram se passando, e a gata engordando. ‘Feral’, não consentia que se tocasse nela. Mas, observando bem, notamos que a ‘gordura’ seria algo mais de palpável e preocupante. E, de repente, Margarida sumiu. Dias depois aparece ela no quintal – desta vez com quatro gatinhos. Lindos, por sinal. Também ganharam nomes: Ginger, Black, Fluffy e Grey. Comecei a me afeiçoar aos bichanos, embora de longe, adorava observava-los pela janela do quarto. Diariamente, como obrigação, deixava eu a comida deles lá na varanda. E quando me atrasava, sentia-me até um tanto culpada. Coisa do ser humano.

Lá um dia batem à minha porta. Surpresa! Nada mais, nada menos, que um emissário do conselho municipal trazendo com ele uma gaiola-alçapão. E, para meu desalento, dia após dia, lá se ia mais um gato. Só Margarida escapou, e até hoje não voltou. Na realidade houve uma denúncia por parte de vizinhos, reportando a presença desses gatos na área. Bem, resumindo, assinamos papeis burocráticos, e nos comprometemos naquele momento, (sob pena de ter que pagar gorda multa), nunca mais alimentar gato vadio.

Aqui na Austrália, quem quiser ter gato como pet deverá cumprir regulamentos ambientais. Por lei federal, o animal deverá ser submetido à esterilização, e ter implantado subcutâneo um chip de identificação. Assim, se perdido, poderá ser rastreado e encontrado. Gatos e raposas têm sido responsáveis pela extinção de aves e animais roedores marsupiais australianos pelo menos nos últimos duzentos anos. É o que mostram os antigos registros de biólogos e cientistas comparados com os de hoje.

No século dezenove os colonizadores britânicos trouxeram com eles nos navios ou na bagagem, gatos domésticos, coelhos, raposas e ratos. Encontrando comida farta estes animais logo se adaptaram e até hoje vão se multiplicando. Dessa forma a fauna nativa vem sofrendo desfalques irreversíveis. Espécies são extintas, para sempre. Alimentar gato vadio, isto nunca mais!

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