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De Melbourne, Amália Grimaldi. 2016

Acordar bem cedo, tomar café de pé na cozinha com olho no relógio, e correr, com um pedaço de pão na mão para a não perder o trem. Tenho dito e repito, aqui nesse reduto ‘descolado’, os rapazes de Melbourne Central não se parecem em nada com os do subúrbio. Com efeito, transitar pela ‘busy n’ chick’ Collins Street, a gente se bate com as mais estrangeiras possíveis pessoas. Noto que seguem, cabeça bem aprumada, seguem ignorando os demais. Mergulhadas em seus próprios pensamentos, mostram-se pretensiosamente ocupadas. Fixam o olhar em algum ponto abstrato e vão andando. Esta é uma tática bastante conhecida. Não existe contato de olho, o que por aqui se chama de ‘boas-maneiras’. Pois é. Mas, vejam só, passar despercebido também poderá ser um ato de impotência premeditada. Os outros, os ‘sem classe definida’, são os chamados de vulgares. A palavra e o gesto - por acaso são estes que prestam socorro, e não se negam a dar informação ao perdido. Na movimentada loucura dessa megalópole exaltada são os que olham e dão atenção.
Mas, como estava dizendo anteriormente, os rapazes do centro se divertem, e estão sempre presentes, pois necessitam do público e da notoriedade, muito embora não respeitando o passante, o atropelado – Eu. ‘Sorry...’ De fato, buscam construir identidade no meio desta dispersiva sociedade. Vestuário despojado, que seja no jeito do cabelo desarrumado, ou simplesmente assanhado, e nas curiosas tatuagens que vestem a pele. Ah, quanto à linguagem, esta possui códigos e jargões somente decodificados pelos membros da tribo à qual pertencem. Passo por esses rapazes, sempre que desembarco na movimentada estação de metrô de Flinders Street.
Ingênuos, ou alienados dos problemas mundiais? Enfim, que sejam os engajados enganados, afinal, quem somos nós nessa loucura de vida? Não estou aqui para julgar. Na verdade, os rapazes de Melbourne Central, levam a alegria de sua juventude às praças e ruas do centro, juntando-se aos muitos artistas de rua em performances variadas. Música, pintura e malabarismo, fazem parte da agrura arte de todos os dias. Enfim, todos procuram um lugar ao sol dessa fugaz notoriedade. Torna-se necessário estar sempre em movimento, até nos pátios de catedrais.
Mas, como já dizia o filósofo alemão Schopenhauer, ninguém poderá construir por si só uma ponte e ter que passar ao mesmo tempo por cima desta. Na verdade, atravessar o rio da vida é uma tarefa individual, principalmente quando cada homem toma o limite de seu próprio campo de visão como se fosse o limite do mundo.

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