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(Pequenas histórias de Valença – Amália Grimaldi)

Sol e chuva. Via-se rococós e platibandas desmantelados pela ação de intempéries. Artesãos bem recomendados saberiam reparar aquela cornija quebrada, o que dignificaria a identidade da morada nobre. Serviço de mãos calejadas de experientes de pedreiros locais logo seria requisitado. O conserto anual da mansão já se fazia necessário. Tia Senhora contava histórias de um tempo de faustos, que ela certamente nunca alcançara, mas que provavelmente ouvira de seus antepassados.

assinaturaTodo ano cumpria-se o mesmo ritual, aquelas paredes rachadas argamassa fresca sugeria. Com sabedoria, no hábil solapar de mãos treinadas, seria então recuperada a estrutura decadente. A mansão do Comendador Madureira, à Rua do Cais do Porto, via-se em processo de reforma. Pregos tortos e parafusos perdidos juntar-se-iam ao entulho. Os festejos natalinos estavam aproximando-se. Grande importância no seu trato requereria. Não tanto talvez, quando do tempo da visita real portuguesa. Já fazia tanto tempo afinal! Entretanto, aquela longínqua lembrança do Império e de seu fausto, ficaria inapagável na mente de cidadãos comuns, o povo de Valença. Muito se comentava sobre a carta timbrada com selo real, importante mensagem de Portugal, que chegara às mãos do seu destinatário, o Comendador Madureira. O Imperador D. Pedro II viria conhecer as terras do seu reino brasileiro e, a generosidade de seus súditos. A fertilidade cantada das antigas terras da Vila do Una, um pedaço do seu vasto império que de tão distante já ouvira falar o bastante, dos mandos e desmandos de subalternos desonestos.

Ali pertinho da casa de meus avós, na rua do cais do porto, um dia desembarcou D. Pedro II, juntamente com a família e parte da sua exigente corte europeia. Contava-se que os serviçais tiveram muito trabalho a fim de contentar o paladar do súdito exigente. E haja comida pra tanta gente! Contava Tia Senhora, que muitos perus foram abatidos. Entretanto, robalos e xareus se fizeram presentes nos muitos banquetes ali realizados. Algaravia de tempo bom, de muitas mesas postas. Fotografias desbotadas, a guardarem-se boas lembranças. Desse antigo palacete, conserva-se ainda viva sua estrutura física, seria uma espécie de memória palpável.

Louva-se a história de Valença, exaltada e cantada no seu belo hino, como também nas crônicas antigas, e registros fotográficos legalmente documentados. Da antiga Rua do Cais do Porto, mais tarde Rua Comendador Madureira, a Valença de meus avós maternos, Maria Madalena e José Grimaldi, de tia Senhora, tia Ítala e tia Fernanda, vejo preservada a história de suas vidas, recordada em lendas e histórias que aí ouvia quando menina. Contos e casos, anedotas engraçadas, mas que seguramente, são traços da nobreza de um povo simples, dignos cidadãos dessa terra, e que muito aí contribuíram com a força do seu trabalho. Cantam os gonzos exaltados, e janelas adormecidas, subitamente, parecem ser despertadas!

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